Leto ou Letão

O leto (ou letão) é uma língua báltica, do grupo indo-europeu, que foi introduzida no território brasileiro por imigrantes provenientes da Letônia, país da Europa Setentrional situado entre a Rússia, a Polônia, a Lituânia a Estônia.
Os primeiros imigrantes letos chegaram ao Brasil em 1890, estabelecendo-se na colônia de Rio Novo, no Estado de Santa Catarina, e mais tarde, em 1906, em Nova Odessa, no Estado de São Paulo. As primeiras imigrações ocorreram em função das difíceis situações econômicas da Letônia e das intensas propagandas e facilidades oferecidas pelo governo brasileiro no período do grande movimento imigratório.
Em um segundo momento, em 1922, ocorreu uma nova imigração, motivada por razões de ordem religiosa, para Varpa, também no Estado de São Paulo. Muitos desses imigrantes, de religião batista e luterana, vinham da Rússia, para onde haviam imigrado anteriormente, e onde o regime político comunista cerceava a liberdade de culto religioso, prática essencial aos protestantes.
Além destas cidades em que foram fundadas as primeiras colônias, hoje há concentrações de descendentes de imigrantes letos também nas cidades de Ijuí, Jacu-Açú e Orleans, no Rio Grande do Sul e São Paulo.
Nos primeiros tempos da imigração, no Brasil, o problema da diferença de línguas era resolvido de maneira precária: as negociações entre imigrantes e administradores do núcleo colonial eram realizadas com a ajuda de intérpretes. R. Sprogis, em Nova Odessa, intermediou inicialmente as negociações entre os imigrantes e o administrador do núcleo, C. Loefgren. Além dele, H. Jankovitz fez o trabalho de intérprete, em 1907. Ainda em função das dificuldades de comunicação entre a administração da colônia e os imigrantes letos, foi fundado em 1908, em Nova Odessa, o jornal Lidumnieks (“Lavrador”), subsidiado pelo governo, tendo por redator J. Malvess, imigrante leto. Esse jornal, quinzenal, com tiragem de 3.000 exemplares, circulou por três anos, com a finalidade de orientar e informar a comunidade leta em sua língua. A essa mesma época o governo também editava o jornal O Immigrante, em quatro línguas. João Gutmman, um outro cidadão leto, que enviava de Londres para os letos no Brasil artigos e outros materiais escritos em leto, chegou a compor um dicionário português-leto, com cerca de duas mil palavras, em 1907. Outros jornais e/ou boletins mensais, tais como o Grautz – “Grão” – também circularam entre os imigrantes letos, com menor duração.
Em Varpa (SP), assim como em outras cidades de imigrantes, as primeiras letras eram aprendidas em casa. Sabe-se que entre os protestantes sempre houve estímulo para a escolarização, por defenderem o livre acesso e interpretação da bíblia. Os imigrantes realizavam os cultos religiosos em sua língua materna, prática que permaneceu em vigor até meados da década de 1980.
Havia também na colônia escola ao ar livre, com professoras da própria comunidade de imigrantes: seus livros, todos em leto, eram enviados de Riga, na Letônia, para o Brasil, através do Consulado. O português era aprendido “na medida do possível”. Em 1935, já nas aproximações do contexto do Estado Novo, o governo brasileiro instala uma escola primária em Varpa. Em Nova Odessa as primeiras escolas datam de 1907, um ano depois da chegada dos imigrante.
A segunda geração de imigrantes letos, nascidos no Brasil, não teve contato com outra cultura e língua além do leto até a idade escolar. Já a terceira e quarta gerações assimilaram a cultura brasileira e a língua nacional, na década de 1940. Hoje no Brasil, há descendentes de letos já de quinta geração, e a maior parte deles diluiu-se entre os brasileiros, embora muitos conservem traços culturais dos antepassados, como a prática da língua e a atribuição de nomes de origem leta ou báltica aos filhos.
Atualmente, a língua leta é exercida em ocasiões especiais, como em congressos anuais da Igreja Batista Leta, sediados sempre por cidades que têm imigrantes letos; em suas apresentações musicais e no espaço privado, entre familiares.

(C.V.B.)

(O.P.)



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