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Nota geral sobre grafia Indígena
A 1ª Reunião
Brasileira de Antropologia, realizada em 1953, estabeleceu uma padronização
para nomes de sociedades (e, conseqüentemente, línguas) indígenas
no Brasil. De fato, chamou-se Convenção para a Grafia dos
Nomes Tribais, e em boa parte atendia ao que referiram como “pobreza
das nossas tipografias em linotipos e monotipos”. Essa convenção
foi publicada na Revista de Antropologia, Vol. 2 (2), p. 150-152,
em 1954. Nos volumes 3 (1955) e 4 (1956) da mesma Revista divulgou-se
uma listagem de nomes de povos indígenas, organizada por Mattoso Câmara
Jr., com base naquela Convenção. Em verdade, em boa parte ela
atendia ao interesse de facilitar ao pesquisador (inclusive ou sobretudo
estrangeiro) identificação da pronúncia aproximada mais
correta do nome indígena.
No caso do Kaingang,
curiosamente, grafou-se “kaingáng”, com acento agudo (ou, ao
menos foi assim que a listagem de Mattoso foi publicada). Desde então,
como forma de atender àquela Convenção, parece ter sido
mais fácil consultar a listagem de Mattoso, e o nome “kaingáng”
tem sido publicado, pela maior parte dos antropólogos e lingüistas,
com acento agudo. Entretanto, isso parece ser um equívoco (ou erro
tipográfico da publicação de 1955 (p. 127). Vejamos:
a) a Convenção
mencionada previu o uso das “vogais portuguesas” “a, e, i” para representar
vogais com “avanço da língua sem arredondamento dos lábios”
e “o, u” para as vogais com “recuo da língua com arredondamento
dos lábios”, reservando o trema “para as mistas” (cf. Convenção,
n° 14). Aquelas vogais seriam empregadas indistintamente, nas sílabas
átonas, “sem procurar distinguir ... vogais abertas e fechadas”.
b) a mesma Convenção
previu, porém, que se marcariam as vogais tônicas (Cf. n°
16), da seguinte forma: “representar a vogal tônica ... por acento
agudo, se é aberta, ou para i e u em qualquer caso,
e pelo acento circunflexo, se é fechada”. Em outras palavras:
i e u, quando tônicos, sempre deveriam levar
acento agudo, enquanto a, e, o receberiam acento agudo
quando abertas e circunflexo quando fechadas.
Acontece que a vogal
da sílaba tônica (final) em “Kaingang” não é
uma vogal aberta. De fato, trata-se de uma vogal central alta ou fechada
(em algumas pronúncias, é no máximo uma vogal central
meio-fechada). A respeitar-se a convenção, deveria escrever-se
“kaingâng”.
Algo semelhante acontece
com o nome “xokleng”, que a aplicação da Convenção
levou os estudiosos a grafar “xokléng”, quando a vogal “e”
, no caso, não é uma vogal aberta, mas o contrário.
Há outros inconvenientes, na adoção daquela
Convenção. Por exemplo, nomes tão comuns como “tupi”,
“guarani” ou “xerente” devem vir sempre acentuados: “tupí”,
“guaraní” e “xerénte” (esse com o mesmo equívoco
apontado para o xokleng).
(W.A.)
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