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Kulina
Os Kulina, cuja
autodenominação étnica é Madija
[Madihá] ‘gente’, ‘pessoa’, encontram-se na fronteira do Brasil
com o Peru. No Peru, os Kulina acham-se dispersos pelas margens dos rios
Alto Purus, Alto Juruá e seus afluentes respectivos, na província
de Coronel Portillo, departamento do Ucayali, na parte Norte das províncias
de La Convención e Tahuamanu, nos departamentos de Cuzco e Madre
de Dios no Sul-Oriente Peruano. No Brasil, a população Kulina
expande-se pelas margens dos rios Juruá e Purus e seus afluentes,
no estado do Acre.
A língua falada pelos Kulina segue a mesma denominação
da etnia, ela pertence à família lingüística
Arawá. Uma característica principal dessa língua
consiste na divisão dos nomes em masculino e feminino. Essa divisão
do léxico poderia, inicialmente, ser considerada paralelamente
à divisão de gênero nas línguas românicas,
contudo há um número grande de nomes que são classificados
arbitrariamente. A seguir, alguns exemplos de nomes subcategorizados
em masculino e feminino:
Masculino
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Feminino
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abi
‘pai’
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ami
‘mãe’
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kodzo
‘lagartixa’
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dzama
‘mata’
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boba
‘flecha’
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awi
‘anta’
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hemedzi
‘medicina’
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meme
‘céu’
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babo
‘carrapato’
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jidepe
‘urucum’
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awa
‘árvore’
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parahi
‘açaí’
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Makahari
‘esquilo’
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tororo
‘espécie de sapo’
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Outro fato interessante na língua Kulina relaciona-se com o comportamento
dos pronominais de primeira e segunda pessoa. Assim, na terceira pessoa
ocorre a distinção entre poa ‘3ª
pessoa masculino’ e poni ‘3ª pessoa feminino’. Contudo,
os pronomes de primeira pessoa singular ao, primeira
pessoa plural ia e segunda pessoa tia
são gramaticalmente femininos. Nesse sentido, o sexo do falante
e do ouvinte não é relevante. Em se tratando de uma construção
sintática contendo uma sentença declarativa simples, com
verbo intransitivo, o SN em função de sujeito determina o
gênero. Por sua parte em uma sentença com verbo transitivo
é o SN em função de objeto que determina o gênero.
Na morfologia verbal, a língua Kulina ou Madija divide os verbos
intransitivos em duas classes: a) bases intransitivas que requerem do
verbo auxiliar na, b) verbos intransitivos que ocorrem
sem o auxiliar. Os verbos do grupo (a) que precisam do auxiliar aparecem
em sentenças em que o sujeito controla a ação verbal,
os do grupo (b) ocorrem em enunciados em que o sujeito não exerce
controle sobre a ação verbal, adicionalmente esse tipo de
intransitivos recebem o prefixo na- ‘causativo’.
Compare:
(1) com auxiliar
ohi
ti -
na - haro
‘Você chorou’
chorar
2 -
AUX – Completivo.Feminino
(2) sem auxiliar
o
- kʰa
abi ∅ - dzokʰe
- hari ‘meu pai morreu’
1SG – GEN
pai 3 - morrer - Completivo.Masculino.
(A.C.M.)
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