Aspectos Históricos

História do Português do Brasil
 

Com a chegada dos Portugueses ao Brasil em 1500 e o início efetivo da colonização portuguesa em 1532, a língua portuguesa foi transportada para o Brasil. Desde modo ela passa a ser praticada numa relação de espaço e tempo diferentes daqueles que a língua tinha em Portugal. Um dos aspectos fundamentais destas novas relações de espaço e tempo tem a ver com o fato de que os povos que viviam aqui falavam outras línguas, as línguas indígenas. A história do português no Brasil pode ser observada em quadro períodos distintos, se consideramos como elemento definidor o modo de sua relação com as demais línguas praticadas no Brasil deste 1500.

O primeiro momento começa com o início da colonização e vai até a saída do holandeses do Brasil em 1654. Neste período o português convive no território que é hoje o Brasil, com as línguas indígenas, com a língua geral e com o holandês. Esta última a língua de um país europeu e colonizador também. A língua geral era a língua falada pela maioria da população. Era a língua do contato entre índios de diferentes tribos, entre índios e portugueses e seus descendentes, assim como entre portugueses e seus descendentes. A língua geral era assim uma língua franca. O português era a língua ensinada em escolas católicas e empregado em documentos oficiais, sendo então a língua oficial do Estado (no caso o Estado Português).

O segundo período começa com a saída dos holandeses do Brasil e vai até a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808. A saída do holandeses muda o quadro de relações entre língua no Brasil na medida em que o português não tem mais a concorrência de uma outra língua de Estado (o holandês). A relação passa a ser fundamentalmente entre o português, as línguas indígenas e especialmente a língua geral. Este período se caracteriza por ser aquele em que Portugal, dando andamento mais específico ao processo de colonização toma também medidas diretas e indiretas que levam ao declínio da língua geral. A população do Brasil que era predominantemente de índios passa a receber um número cada vez mais crescente de portugueses assim como de negros que vinham para o Brasil como escravos. Para se ter uma idéia, no século XVI foram trazidos para o Brasil 100.000 negros. Este número salta para 600.000 no século XVII e 1.300.000 no século XVIII. O espaço de línguas do Brasil para incluir também a relação das línguas dos escravos e o português. Com o aumento do número de portugueses aumenta também o número de falantes específicos do português. E isto tem uma outra característica: os portugueses que vêm para o Brasil não vêm da mesma região de Portugal. Deste modo passa a conviver no Brasil num mesmo espaço e tempo variedades do português que em Portugal não tinham esta relação direta. Conviviam naquele país como dialetos de regiões diferentes. Estes aspectos fazem parte do que levou a mudanças específicas do português do Brasil relativamente ao de Portugal.

Neste período ainda há dois fatos de extrema importância. O primeiro deles é a ação direta do Império Português que age para impedir o uso da língua geral nas escolas. Esta ação é uma atitude direta de política de línguas de Portugal para tornar o português a língua mais falada do Brasil. Uma destas ações mais conhecidas é o estabelecimento do Édito dos Índios, por iniciativa do Marquês de Pombal, ministro de Dom José I, que proibia  o uso da língua geral na colônia. Assim os índios não poderiam mais usar nenhuma outra língua que não a portuguesa. Esta ação, junto com o aumento da população portuguesa no Brasil, terá um efeito específico que ajuda a levar ao declínio definitivo da língua geral no Brasil. 
O português passa assim tanto a língua oficial do Estado como a língua mais falada no Brasil.

O terceiro momento do português no Brasil começa com a vinda da família real em 1808, como conseqüência da guerra com a França, e termina com a independência em 1822. Poderíamos utilizar como data 1822, pois é neste ano que se formula a questão da língua nacional do Brasil no parlamento brasileiro.
A vinda da Família Real terá dois efeitos importantes. O primeiro deles é um aumento em curto espaço de tempo da população portuguesa no Brasil, chegaram ao Rio de Janeiro em torno de 15.000 portugueses. O segundo é a transformação do Rio de Janeiro em Capital do Império que traz novos aspectos para as relações sociais em território brasileiro, e isto inclui também a questão da língua. Logo de início Dom João VI criou a imprensa no Brasil e fundou a Biblioteca Nacional, mudando o quadro da vida cultural brasileira, e dando à língua portuguesa um instrumento direto de circulação, a imprensa. Estes fatos produzem um certo efeito de unidade do português para o Brasil, enquanto língua do Rei e da Corte.

O quarto período começa em 1826. Neste ano um deputado propôs que os diplomas dos médicos no Brasil fossem redigidos em "linguagem brasileira". Em 1827 houve um grande número de discussões sobre o fato de que os professores deveriam ensinar a ler e a escrever utilizando a gramática da "língua nacional". Ou seja, a questão da língua portuguesa no Brasil se põe agora como uma forma de torná-la de língua do colonizador em língua da nação brasileira.
Estas questões tomam espaços importantes tanto na literatura quanto na constituição de um conhecimento brasileiro sobre o português no Brasil. É desta época a literatura de José de Alencar, que tem debates importantes com escritores portugueses que não aceitavam o modo como ele escrevia. É também desta época o processo pelo qual os brasileiros passaram a constituir suas gramáticas para o ensino de português e seus dicionários. Desta maneira, cria-se historicamente no Brasil o sentido de apropriação do português enquanto uma língua que tem as marcas de sua relação com as condições brasileiras. Pela história de suas relações com outro espaço de línguas o português, ao se relacionar em novas condições com línguas indígenas, língua geral, línguas africanas, se modificou de modo específico e os gramáticos e lexicógrafos brasileiros do final do século XIX, junto com nossos escritores, dão ao Brasil o “sentimento” do português como língua nacional do Brasil.
 
 

(E.G.)

 
 

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