O conceito de desastre natural tem circulado amplamente na mídia e em materiais de divulgação científica. Em um desses materiais, que coletamos no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), encontramos a seguinte definição:
“Desastres naturais como RESULTADO do impacto de um fenômeno natural extremo ou intenso sobre um sistema social, e que causa sérios danos e prejuízos que excedam a capacidade dos afetados em conviver com o impacto.” (SAITO, 2015)
Uma das marcas dessa definição é a de relacionar o “fenômeno natural” ao “sistema social”, por meio de uma relação de causa e efeito. Observe-se que há uma distinção entre evento natural e desastre natural. O evento natural pode ocorrer sem a presença do homem, já o desastre natural pressupõe sempre danos para o homem.
Os desastres naturais podem ser classificados por campo científico. Assim, temos, segundo Saito (2015), os desastres naturais biológicos (epidemias, infestações por insetos, ataques animais), geofísicos (terremotos, vulcões, movimentos de massa sem água), climatológicos (secas, temperaturas expremas, incêndios), hidrológicos (inundações, movimentos de massa com água) e meteorológicos(tempestades).
Um dos funcionamentos discursivos produzidos pela locução desastre natural é o de que os desastres que afetam o homem são significados como naturais. Embora se pressuponha sempre uma relação com o “sistema social”, a causa é mostrada como natural, ou seja, um fenômeno natural causa um desastre com danos sociais.
Assim, se uma tempestade provoca uma inundação em uma cidade em que o solo está fortemente impermealizado pelo asfalto e pelas construções urbanas, a causa não é o asfaltamento ou a construção (causa tecnológica), mas sim a tempestade (causa natural). Note-se que esse é um sentido que se produz pela materialidade linguística da locução “desastre natural”. especificamente pela presença do adjetivo “natural” determinando o nome “desastre”.
É pertinente, diante disso, considerar que nas discussões sobre os acontecimentos urbanos, há discursos que, pela materialidade mesma dos termos conceituais, silenciam causas de outra ordem que não a natural.
Bibliografia
SAITO, S. Desastres naturais: conceitos básicos. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2015. Disponível em: http://www.inpe.br/crs/crectealc/pdf/silvia_saito.pdf. Acesso em: 08 de abril de 2015.