Com a palavra “cortiço”, já pouco usada atualmente, aparece uma relação entre moradia, casa, e cortiço. O cortiço seria uma casa, uma edificação depreciada fisicamente e que serve de moradia para conjuntos de famílias diferentes. De tal modo o cortiço tinha um lugar importante na organização social brasileira que podemos lembrar aqui o romance de Aluízio de Azevedo, O Cortiço, do século XIX. Recentemente foi publicado um livro de Ivan Jaf, Dez dias de cortiço, que procurou rever as questões colocadas pelo trabalho de Aluízio Azevedo. O que mostra a permanência do sentido deste modo de ocupação de um edifício em princípio feito como qualquer outro, com os processos construtivos habituais.
No entanto, esta palavra passa a ser mais usada num sentido metafórico, como em expressões “isto aqui está parecendo um cortiço”. Uma expressão próxima desta, “isto aqui tá parecendo uma favela”, jamais apareceria, com este sentido. Este último enunciado traz um sentido descritivo, ao passo que o primeiro traz já um sentido avaliativo, e não necessariamente físico. Isto se vê claramente quando encontramos, por exemplo, expressões sobre ocupações de prédios vazios como “é a maior favela vertical da América Latina”, Ou ainda “Imagens de favela vertical”, que se encontra por buscadores da internet através da expressão “favela vertical”. Pode-se considerar que a palavra favela se impõe, historicamente, como palavra que desloca o termo cortiço.