Com a ampliação, no Brasi,l das manifestações sociais, das marchas, dos protestos, diversificam-se as formas de participação. O vocabulário político dos protestos se amplia e dentre as palavras que ganham destaque encontra-se o panelaço. A panela, um objeto caseiro, culinário, simbólico da vida privada, da residência, torna-se instrumento de manifestação pública, de protesto. Utilizado em manifestações na Argentina, ele agora se expande no Brasil. Vejamos como um dos panelaços recentes é mostrado em uma notícia de jornal:
“Um novo panelaço sacudiu o Brasil no início da noite deste domingo (15/3), após manifestações de protestos feitas nas ruas das principais capitais do País. Em vários Estados as pessoas bateram panelas nas janelas das residências, apagaram e acenderam as luzes e, nas ruas, acionaram as buzinas dos veículos. Os protestos se fizeram ouvir em vários bairros de Salvador, no Rio de Janeiro, Brasília e em São Paulo, por exemplo.” (TRIBUNA DA BAHIA, 2015)
Além de serem utilizadas nas ruas, as panelas batidas com objetos como talheres aparecem também nas janelas e varandas dos prédios, acompanhadas do acender e apagar de luzes. O acontecimento torna-se um espetáculo público e mediático. Com hora marcada, pode atrapalhar uma emissão televisiva, um pronunciamento político. O panelaço se insere entre as técnicas de individualização dos sujeitos nas manifestações públicas, assim como os mini-cartazes e as buzinas. Para funcionar, demanda reunião, assim como se vê nos atuais coletivos participativos de movimentos sociais.
Desse modo, lado dos sentidos conflituosos, os protestos apresentam um componente espetacular, festivo ou humorístico, na tensão entre o polêmico e o lúdico. E assim, um certo tipo de sonoridade, de ruído urbano significado politicamente, junta-se ao coro dos participantes, às palavras-de-ordem, aos rumores das redes sociais, e as casas se juntam às ruas.
Bibliografia
TRIBUNA DA BAHIA. Disponível em: http://www.tribunadabahia.com.br/2015/03/15/brasileiros-fazem-novo-panelaco-contra-gestao-de-dilma-rousseff. Acesso em 18 de março de 2015.