O nome saltimbanco indica uma prática de apresentações artísticas no espaço público. É uma palavra de pouco uso hoje em dia, mas que permite compreender alguns processos discursivos. Vejamos como ela é definida no dicionário Aulete Digital (2015):
“1. Artista popular itinerante, que integra grupos de circo, teatro que fazem exibições em praças e em pequenas cidades do interior
2. Charlatão de feira que exibe suas habilidades em pequenos palcos improvisados
3. Fig. Aquele que não é digno de confiança por estar sempre mudando de opinião” (AULETE DIGITAL, 2015
Algumas oposições se apresentam nessas definições. A primeira delas é entre artista erudito e artista popular, sendo que o saltimbanco se liga ao último, com uma identidade coletiva, e o que o caracteriza é a apresentação em espaços públicos como praças, feiras e palcos improvisados.
Outra oposição é aquela entre capital e interior, entre grandes centros urbanos e pequenas cidades, estando os saltimbancos localizados nestas últimas.
As definições 2 e 3 tazem sentidos de “charlatão”, que “não é digno de confiança” e que está sempre “mudando de opinião”. Esses sentidos se aproximam dos que são atribuídos também aos artistas de modo geral, como se percebe no verbete “artista” do mesmo dicionário. Há uma regularidade segundo a qual a cada acepção os sentidos negativos ou pejorativos vão sendo acrescentados, de modo que em saltimbanco o sujeito é gradativamente significado como moralmente inferior. Tal tendência historicamente constituída nos dicionários tem sido questionada na atualidade, tendo em vista considerar sentidos silenciados ou produzidos de outras posições.
Na conjuntura contemporânea, os chamados artistas de rua (grafiteiros, malabares, atores performáticos, acrobatas, etc.) não estão relacionados somente a cidades pequenas, mas também e sobretudo a cidades médias e grandes, onde as condições de desemprego, imigração, pobreza estão muito presentes.
Também se nota uma individualização dos sujeitos artistas no espaço público, visto que grande parte das exibições são feitas isoladamente e não em grupo. Há, por outro lado, algumas apresentações coletivas como as de teatro de rua, que utilizam vários recursos oferecidos pelos espaços abertos, com espetáculos impactantes.
Bibliografia
AULETE DIGITAL – O DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em: http://www.aulete.com.br. Acesso em 17 de março de 2015.