Gênero – Transgênero – Transfobia – Homofobia – Cissexismo
Ao buscar definir a palavra cisgênero, diferentes discursos passam a funcionar. De um discurso biológico (relacionado ao sexo) a um discurso patológico (vendo o transgênero como uma doença e classificando-o no DSM – Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais – e no CID – Catálogo Internacional de Doenças – e tratando o cisgênero como normalidade), passando por um discurso da cultura, as relações entre os sujeitos cisgêneros e transgêneros são colocadas em funcionamento.
A palavra cisgênero mobiliza pensar em 1. Expressão de gênero; 2. Identidade de gênero e 3. Papel de gênero. Em Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos (2012), são apresentadas algumas definições para esses conceitos. Expressão de gênero é entendida como “a forma como a pessoa se apresenta, sua aparência e seu comportamento, de acordo com expectativas sociais de aparência e comportamento de um determinado gênero. Depende da cultura que a pessoa vive” (2012, p. 13). Relacionam-se aqui os aspectos culturais, comportamentais e sociais de um indivíduo. Já identidade de gênero refere-se ao gênero com o qual a pessoa se identifica que pode ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído desde seu nascimento. Por fim, papel de gênero refere-se ao “modo de agir em determinadas situações conforme o gênero atribuído, ensinado às pessoas desde seu nascimento” (2012, p. 14).
Assim, a palavra cisgênero (do latim cis significa do mesmo lado) é atribuída ao indivíduo quando sua identidade de gênero está em consonância com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer, ou seja, “quando sua conduta psicossocial, expressa nos atos mais comuns do dia-a-dia está inteiramente de acordo com o que a sociedade espera de pessoas do seu sexo biológico” (http://www.leticialanz.org/cisgênero).
Embora no imaginário da sociedade vejam-se as diferenças entre homens e mulheres como somente biológicas, pode-se afirmar, ao falar em gênero, que essas diferenças são sociais, isto é, são construídas sócio-historicamente: “a sociedade em que vivemos dissemina a crença de que os órgãos genitais definem se uma pessoa é homem ou mulher. Porém, essa construção do sexo não é fato biológico é social” (2012, p. 5). Gênero vai além do sexo.
Para os movimentos feministas e trans, aponta Hungerford (s.d., www.materialfeminista.milharal.org/2012/08/27traducao-uma-critica-feminista-ao-cisgenero), “as atribuições coercitivas de gênero são uma fonte significativa de opressão”. O sujeito ao não se identificar com o gênero atribuído a ele ao nascer será vítima de cissexismo, o qual coloca “pessoas cis como o padrão natural de gênero e corpos” e “ignora, apaga, desconsidera experiências e corpos não cis” (https://feminismotrans.wordpress.com/2013/03/15/cissexual-cisgenero-e-cissexismo-um-glossario-basico/).
Portanto, há a circulação de um discurso que produz uma oposição entre o cisgênero e o transgênero. No cis, estaria a normalidade; no trans, a doença, discurso com o qual os movimentos sociais tentam romper.
Referências Bibliográficas
JESUS, J. G. de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Brasília: Autor, 2012.
http://www.leticialanz.org/cisgênero. Acesso em 03 dez. 2014.
https://feminismotrans.wordpress.com/2013/03/15/cissexual-cisgenero-e-cissexismo-um-glossario-basico/ Acesso em 03 dez. 2014.
www.materialfeminista.milharal.org/2012/08/27traducao-uma-critica-feminista-ao-cisgenero Acesso em 03 dez. 2014.