Apresentação



Apresentar o II volume da série de livros digitais e-urbano é, para mim, uma grande satisfação. Primeiro, porque o trabalho que venho desenvolvendo ao longo dos últimos 10 anos, para compreender o sentido do digital na sociedade contemporânea se configura na(o) forma(to) do conhecimento científico quando se publica um livro com a densidade teórica dos capítulos que compõem esse volume. Segundo, porque o grupo de autores que compõem esse livro vão trazer reflexões, a cada capítulo, de lugares teóricos distintos, mas todos tendo a Análise de Discurso como lugar teórico de diálogo, como base para análise. Terceiro, porque cada um desses capítulos vai compondo, não só o livro, mas nossa compreensão sobre o digital.

Nesse volume de livros da série e-urbano, o tema proposto foi a questão da mobilidade. O tema tem como intuito traçar uma reflexão sobre as formas de circulação do saber e do sujeito no espaço em rede (e-urbano), formas essas afetadas/reguladas, hoje, pelo uso de dispositivos móveis e aplicativos que se comunicam entre si e comunicam o percurso do sujeito e do saber a um sistema de regulagem digital através do compartilhamento (dados fornecidos pelo sujeito através de postagens ou acesso) ou rastreamento (dados fornecidos pelo dispositivo). Com isso, o sujeito está cada vez mais conectado ao espaço digital (enciclopédias, redes sociais, youtube, blogs, sites, programas, etc.) e seus percursos (de saber) cada vez mais atravessados pelo e-urbano na formulação e constituição de sentidos. Tudo isso produz uma mudança no que chamamos mobilidade, questão esta estritamente ligada à expansão e urbanização do mundo, às formas de vida e às relações sociais. A linguagem e os sentidos.

Para mim, em reflexão que desenvolvi mais largamente no livro “Sujeito, sociedade e tecnologia: a discursividade da rede (de sentidos)” (DIAS, 2012), sobre o espaço ciber, a mobilidade é uma das metáforas do mundo que, hoje, significa na forma da localidade. A localidade é uma questão fundamental para pensarmos a nova configuração do mundo. Não é uma questão de des-locamento como muito se pensou nos anos 90, mas de localidade, que implica uma forma de deslocamento específica.

Um exemplo da especificidade dessa forma de deslocamento é a utilização do aparelho celular, tão conhecido nosso. A pergunta que normalmente se faz em uma ligação por celular não é “como está?”, mas “onde está?”. É uma questão de localidade que se enuncia, pelo funcionamento do discurso da tecnologia, e que tem implicações importantes na forma de relação social. A pergunta não é “aonde vamos?”, mas “onde estamos?”.

Outra maneira de se pensar o deslocamento está no uso das tecnologias GPS (sistema de posicionamento global), cujo rápido desenvolvimento se deve a um milionário investimento neste setor. Essa tecnologia é uma nova forma de navegação, de des-locamento, uma forma de se localizar no e pelo mundo contemporâneo via satélite!

A noção de localidade está estritamente comprometida com a chamada presentificação do mundo, com o hedonismo, ao passo que a noção de deslocamento pode ser associada a um tempo extensivo. Ou seja, para se deslocar de um ponto ‘x’ a um ponto ‘y’ é preciso uma extensão de tempo ‘z’ e consequentemente um deslocamento no espaço. A noção de localidade, por sua vez, está associada a um espaço-tempo que reúne num só tempo os movimentos x, y e z.

Assim, os capítulos desse livro vão tratar, cada um a seu modo, dessas questões. Do mundo da tecnologia e da forma como nos movemos, nos constituímos e nele constituímos nossos saberes, nosso corpo, nossa sociedade, a linguagem e o sentido.

Fica o convite à leitura!

Cristiane Dias