Artes - Política e poética do olhar
Política e poética do olhar
Em “Política e poética do olhar”, apresentamos um conjunto de imagens produzidas por um grupo de adolescentes na Oficina de Fotografia realizada no âmbito do Projeto Barracão. Desenvolvido no bairro Eldorado dos Carajás, periferia de Campinas, o projeto Barracão é um projeto de extensão e pesquisa que tem como objetivo produzir outros modos de significação para o sujeito, para o espaço em que vive e para a sociedade. A essas outras possibilidades de sentido possíveis entendemos como sendo o político. A poética é aquilo que o olhar recorta.
Fotografar aguça o olhar. O olhar desvela, encobre, distorce, revela, cala, engana, apaga, recorta, significando em todos os seus gestos. No espaço, esse olhar enquadra um ponto em imagem, em significante. No tempo, esse olhar que fotografa imprime, registra, (i)mobiliza um aqui-agora. Uma vez captado pela lente do jovem aprendiz, esse espaço-tempo percorre outros caminhos (outros sentidos), do papel-foto, do pixel ou, ainda, que ultrapassam os limites do papel e se aprumam entre pixels e gigabytes. O destino deste fragmento, recorte do real pelo olhar do jovem fotografo, é o (des)limite, é o (sem)fronteira, é a trama das redes de sentidos, de histórias, nas entrelinhas de vidas que são posta(da)s no espaço-tempo digital.
Na oficina de fotografia, máquina em punho, sonho em mente, meninos levados da periferia descobrem, experimentam, persistem no gesto de fotografar (assim como na vida?) de baixo para cima, de cima para baixo, em detalhe ou desfocado. O menino que fotografa se deixa afetar pelo espaço, ora fora, ora dentro, intervindo em sua ordem. Às vezes, ao meio, no meio da rua, da poeira, dos outros olhares. Entre-luz, entre-dois, transpó, à sombra: a margem, na busca por um ângulo.
Sentidos derivam desse gesto de olhar o agora e o futuro. Na lente da câmera a perspectiva do sonho. O pequeno fotógrafo narrativiza não só a divisão, o estar à margem, mas o que de sua contraparte, na imagem, é capaz de escapar, de resistir: a poesia convocada pela linguagem.
Em um clique, política do olhar, poéticas da vida.