Bakairi

Organização sócio-econômica e política

Os Bakairi são ribeirinhos, agricultores e pescadores, cumprindo a caça e a coleta papel complementar. Eles vivem dispersos em diversos grupos, cada qual dominando um território delimitado por rios e riachos e com direito a seus recursos (ver localização). Em regra, a denominação dessas unidades político-territoriais corresponde aos nomes dos rios ou riachos próximos. Um indivíduo ou uma família é identificada como pertencente ao local em que vive, havendo uma relação entre identidade e territorialidade. Essa é a unidade sociológica mais ampla nessa sociedade: o grupo local. O grupo local é constituído, em geral, a partir de um grupo de irmãos de ambos os sexos, ou de dois que se casam entre si, sendo liderado por aquele indivíduo que reuniu forças políticas para tanto. É formado por um número variável de grupos domésticos constituídos, na sua maioria, por famílias elementares, ou seja, compostas basicamente por pai, mãe e filhos. Os chefes desses grupos são os esteios que sustentam a ordem política e jurídica, através de um conselho. Cabe ao líder manter o delicado equilíbrio entre eles e representá-los diante de outros grupos locais e dos não-indígenas. As unidades residenciais são dispostas linearmente, formando ruas, estilo introduzido pelos agentes do órgão tutor. Mas há sempre um local, ao lado da casa do líder, vivido como se fora o centro, onde fazem reuniões e rituais. Em alguns grupos tem-se o kadoêti, a "casa dos homens", na qual se guardam as máscaras rituais.
Entre os Bakairi registram-se casamentos com não-indígenas e os filhos resultantes, se observarem suas regras básicas de sociabilidade, são considerados Bakairi. A família elementar contém em si um forte princípio de autonomia. Ela pode romper com as alianças estabelecidas e ir residir em outro grupo local onde tenha parentes, seja do lado materno ou paterno, de qualquer um dos cônjuges. Os homens recém-casados vivem na casa do sogro – com exceção dos filhos primogênitos de líderes – até o nascimento do primeiro filho, quando podem escolher onde residir, se com os seus parentes ou os da esposa. O sistema de parentesco é bilateral, ou seja, têm igual importância os parentes paternos e maternos. Terminologicamente, pai e irmão do pai são igualados, assim como a mãe e a irmã da mãe. Há termos distintos para irmã do pai e para irmão da mãe. O casamento une preferencialmente parentes distantes, social e biologicamente. Não se pode pronunciar os nomes dos parentes afins, reais ou potenciais. Os nomes são oriundos dos consangüíneos mortos, os quais só podem ser pronunciados depois de recolocados em circulação. Idealmente são os avós maternos e paternos que nominam a criança. Cada qual resgata, no mínimo, um nome de seus consangüíneos mortos e do mesmo sexo da criança. Uma pessoa herda pelo menos quatro nomes, dois pela linha materna, dois pela paterna. Há indivíduos que acumulam dez nomes, o que lhes confere prestígio. É vedado ao pai e parentes do pai pronunciar os nomes oriundos da linha materna, sendo o inverso igualmente verdadeiro. Além desses nomes, eles possuem outros em português.

Chefia

Os Bakairi elegem seu chefe por sistema de votação. Em algumas das aldeias acima mencionadas, recupera-se a figura do Cacique, transmitida por hereditariedade.
A partir de 1985, os Bakairi do Paranatinga assumiram também a chefia do posto indígena da Fundação Nacional do Índio, a escola e demais cargos remunerados, destinado aos não-indígenas. Quatro anos depois eles inauguraram o Museu-Oficina Kuikare, com apoio da Fundação Nacional Pró-Memória, e criaram, em seguida, a Associação Kurâ-Bakairi. Dentre as ações desta, destaca-se a relacionada à prevenção da AIDS, com apoio do Ministério da Saúde.

 (T.S)

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