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Kaingang
Língua
indígena da família Jê, integrante do tronco Macro-Jê
(cf. Rodrigues 1986). Falada no Sul do Brasil, o kaingang forma, junto com
o xokleng, o restrito conjunto meridional das línguas Macro-Jê:
são as únicas, de uma dezena e meia de línguas Jê,
que se estendem ao sul do Trópico de Capricórnio. Por outro
lado, o kaingang é a língua Jê com maior número
de falantes, sendo que a população kaingang corresponde a mais
de 45% da população total dos povos de língua Jê.
Os kaingang habitam
cerca de 30 áreas (terras) na faixa compreendida entre o Rio Tietê
(limite setentrional, no estado de São Paulo) e o Rio Ijuí
(limite meridional, no Rio Grande do Sul). Nessa vasta extensão a
língua kaingang apresenta uma variedade de dialetos. Wiesemann (1971:259-260)
identificou cinco, assim distribuídos: (a) São Paulo; (b) Paraná,
entre os rios Paranapanema e Iguaçu; (c) Central, entre os rios Iguaçu
e Uruguai; (d) Sudoeste, ao sul do rio Uruguai e oeste do rio Passo Fundo
(e mais algumas famílias em Votouro); (e) Sudeste, ao sul do rio Uruguai
e leste do rio Passo Fundo. De fato, a riqueza dialetal kaingang é
ainda mais rica e mais complexa que isso, em parte em função
das migrações e alianças históricas entre aldeias.
Os primeiros contatos
amistosos de comunidades kaingang com os europeus aconteceram no sudoeste
do Paraná e no norte do Rio Grande do Sul, ainda no início
do século XVII (com missionários jesuítas), mas as relações
não prosperaram. No século XIX, no entanto, os territórios
Kaingang nos Campos do Tibagi e de Guarapuava foram ocupados, e a partir
daí paulatinamente foram se criando relações entre distintos
grupos Kaingang e comunidades de luso-brasileiros, à medida em que
frentes pastoris e agrícolas avançavam sobre seus territórios.
Os últimos grupos a aceitar relações de contato com
os não-índios foram os kaingang paulistas (1912) e um grupo
no norte paranaense (década de 1920).
Os processos de mestiçagem
(pela pressão da sociedade regional sobre as terras indígenas),
as compulsões assimilatórias, o efeito da discriminação
e, finalmente, um ensino escolar calcado em um programa de bilingüismo
de transição (implantado sob orientação do Summer
Institute of Linguistics, nos anos 70) provocaram perda lingüística
em muitas comunidades Kaingang. Ainda que não atinjindo todas, e não
as atinjindo de modo homogêneo, o processo foi particularmente acentuado
em comunidades como Votouro, Guarita (RS), Chimbangue, Xapecó (SC),
Mangueirinha e Palmas (PR). Em algumas áreas, no entanto, o grau de
manutenção e vitalidade da língua indígena é
extremamente alto, com parte da população monolíngüe
em kaingang, como em Ivaí, Faxinal, Apucarana (PR), Inhacorá
e Rio da Várzea (RS). As situações de maior perda estão
nas duas pequenas aldeias no Estado de São Paulo (Icatu e Vanuíre),
nas quais a língua indígena já não é falada,
embora se conte ainda uma dezena de pessoas que tiveram o kaingang como primeira
língua e conheçam a língua.
(W.A.)
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