Kaxinawa
Os Kaxinawa,
identificados pela literatura etnográfica também como Cachinauá,
Caxinaua, Cashinawa, localizam-se nos leitos altos dos rios Purus e Juruá
e seus afluentes na fronteira Peru-Brasil. As aldeias Kaxinawa no Peru
encontram-se nas margens dos rios Juruá, Curanja e Embira, departamento
do Ucayali. No Brasil os Kaxinawa habitam as regiões dos rios
Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e
Purus, no estado do Acre.
Embora essa população indígena aceite a denominação
externa Kaxinawa (palavra constituída de Kaxi
‘morcego’, nawa ‘gente’, forasteiro’), a auto-identificação
é Huni kuin (palavra constituída por huni ‘homem’, kuin
‘verdadeiro’), em oposição à
huni kuinman ‘homem não verdadeiro’, nome
usado para referir-se a todo aquele que não são Kaxinawa.
O nome alternativo a huni kuinman é nawa.
O vocábulo nawa é usado pelos próprios
povos pano e podem fazer referência a uma pessoa ou a qualquer
grupo de pessoas que partilhem uma característica comum.
Todos os povos que ficam sob a denominação Huni kuin são tratados como parentes, ou seja, nabu ‘parente’, ‘patrício’; mas apenas os estritamente
identificados como Kaxinawa são chamados nabu kuin
‘parentes verdadeiros’. Outros povos pano são considerados nabu betsa ‘lit. os outros parentes’ < betsa
‘outro’, ‘diferente’.
O povo Kaxinawa fala uma língua do mesmo nome ou hancha
kuin ‘palavras verdadeiras’. Ela faz parte da família lingüística
Pano, família essa constituída por aproximadamente 30 línguas
e que são faladas nas regiões amazônicas do Peru, Brasil
e da Bolívia. Na classificação interna da família
Pano, o Kaxinawa é alocada como língua Pano do Sudeste
ou Pano das Cabeceiras paralelamente às línguas Iskonawa,
Amawaka e as Pano-Purus (Jaminawa, Xaranawa, Marinawa, Mastanawa, Jawanawa,
Xaninawa) (cf. d’Ans 1973).
A língua Kaxinawa apresenta uma morfologia em que as palavras
são compostas de uma seqüência de sufixos com tendências
à aglutinação. Sintaticamente pode ser considerada
uma língua com a ordem de seus constituintes maiores S(ujeito)-O(bjeto)-
V(erbo). Em se tratando de uma sentença com verbo transitivo,
o Sintagma Nominal em função sintática de sujeito leva
uma marca morfológica que na literatura lingüística
é conhecida como marca morfológica de ergativo. Já
numa sentença com verbo intransitivo o Sintagma Nominal em função
sintática de sujeito não leva marca alguma. Compare:
a) bake –
n ainbu -
f
win – a – ki
‘o menino viu a mulher’
menino-erg mulher-abs ver – asp-decl
b) huni -
f
hua -
a -
ki
‘o homem chegou
homem - abs
chegar-asp-decl