A Wikipédia define a transfobia como a “discriminação contra as pessoas transexuais e transgêneros. Seja intencional ou não, a transfobia pode causar severas consequências para quem sofre esta discriminação. As pessoas transexuais também podem ser alvo de homofobia, tal como as pessoas homossexuais podem ser alvo de transfobia, por parte de pessoas que incorretamente não distinguem identidade de gênero de orientação sexual”.
Podemos perceber que há, na Wikipédia, a retomada de um discurso do preconceito, mostrando as formas de discriminação sofridas pelos sujeitos trans: “Como outras formas de discriminação o comportamento discriminatório ou intolerante pode ser direto (desde formas fisicamente violentas até recusas em comunicar com a pessoa em causa) ou indireto (como recusar-se a garantir que pessoas transexuais sejam tratadas da mesma forma que as pessoas cissexuais)”.
Toda a definição da Wikipédia busca explicitar que há diferença entre identidade de gênero e identidade sexual. Assim, para a Wikipédia a “transfobia pode também ser definida como aversão sem controle, repugnância, ódio, preconceito de algumas pessoas ou grupos contra pessoas e grupos com identidades de gênero travestis, transgêneros, transexuais”. A transfobia, assim, está relacionada a um discurso da violência contra um sujeito que não segue a imposição da sociedade “cissexual”.
No Dicionário de Psicanálise (ROUDINESCO, 1998, p. 764), trata-se o transexualismo como “um distúrbio puramente psíquico da identidade sexual, caracterizado pela convicção inabalável que tem um sujeito de pertencer ao sexo oposto”. Conforme esse dicionário (ROUDINESCO, 1998, P. 764-765), foi o médico psiquiatra Harry Benjamin que criou o termo em 1953 e propôs, para aliviar o sofrimento dos pacientes, “um tratamento hormonal e uma experiência de vida social, durante um prazo mínimo de seis meses, nos moldes do sexo desejado”. Temos, no dicionário, a filiação a um discurso médico-psicanalítico.
No site http://transfeminismo.com, explicita-se uma luta do transfeminismo contra um discurso de ódio e violência contra os transexuais e transgêneros e salienta-se também um discurso de inclusão desses sujeitos na sociedade.
Em meio a um discurso da aceitação da diversidade, o site assim se posiciona: “Nós nos comprometemos a reconhecer e respeitar a construção complexa de identidade de gênero e sexual; a reconhecer mulheres trans* como mulheres e incluí-las em todos os espaços de mulheres; a reconhecer homens trans* como homens e rejeitar narrativas de masculinidade que os excluam; a reconhecer a existência de pessoas genderqueer, não-binárias e a aceitar a humanidade delas; com análises e pesquisas rigorosas, profundas e nuançadas de gênero, sexo e sexualidade que aceitem as pessoas trans* como autoridades sobre suas próprias experiências e que entendam que a legitimidade de suas vidas não está aberta a debate; e com lutar as ideologias irmãs de transfobia e patriarcado em todas as suas facetas”.
Em tom de protesto e manifestação, o site mostra que há, no interior do movimento feminista, a constituição de um feminismo transfóbico, a formulação de um discurso que exclui a mulher trans e a violenta na mesma medida da violência patriarcal sofrida pelas mulheres não-trans: “Quando feministas excluem mulheres trans* de abrigos para mulheres, mulheres trans* são deixadas vulneráveis aos piores tipos de misoginia violenta e abusiva, seja em abrigos para homens, seja nas ruas, ou em lares abusivos. Quando feministas exigem que mulheres trans* sejam excluídas de banheiros femininos e que pessoas genderqueer escolham um banheiro marcado como binário, elas tornam a participação dessas pessoas na esfera pública quase impossível, colaboram com a rigidez das identidades de gênero, a qual historicamente o feminismo lutou contra, e levantam outra barreira ao emprego. Quando feministas ensinam transfobia, elas impedem o acesso de pessoas trans* à educação e às oportunidades que a educação proporciona”.
No texto Carta Aberta Transfeminismo Fazendo Gênero, coloca-se a necessidade da criação de um espaço na sociedade que legitime e fortaleça a construção do conhecimento produzido pela população trans, além de legitimar os “espaços identitários de gêneros”. Nesse texto, aponta-se que ausência desse espaço para se enunciar faz com que os sujeitos trans sejam alvo de violência: “Ressaltamos que urge uma valorização dos conhecimentos e modos de fazer das pessoas trans, construídos historicamente, por meio de enfrentamentos ao cotidiano de exclusão ao qual a população trans está submetida no Brasil, culminando em um genocídio trans invisibilizado nas estatísticas oficiais ou indevidamente identificado como parte de um processo de homofobia – esta é a nação na qual mais se matam pessoas trans no mundo, conforme dados de pesquisa coletados em 55 países pela Organização Não GovernamentalTransgender Europe”.
Em 29 de janeiro de 2004, ativistas transexuais participaram, no Congresso Nacional, do lançamento da primeira campanha contra a transfobia no país. A partir de então, 29 de janeiro é o Dia da Visibilidade Trans, cuja finalidade é salientar a diversidade e o respeito ao movimento trans.
Na perspectiva discursiva, a transfobia pode se entendida por uma violência de gênero, baseada em relações de poder, colocadas em evidência em uma sociedade que sustenta o gênero masculino (homem) como elemento constituidor da ideologia dominante que interpela os indivíduos para constituí-los como sujeito-mulher, sujeito-homossexual, sujeito-bissexual, sujeito-transexual, sujeito-transgênero.
Referências Bibliográficas
Carta Aberta Transfeminismo Fazendo Gênero. Disponível em: http://transfeminismo.com. Acesso em: 21de out 2013.
ROUDINESCO, E. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
Transfobia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transfobia. Acesso em: 21de out 2013.
Visibilidade Trans. Disponível em: http://cmprio.blogspot.com.br/2012/01/viva-o-dia-da-visibilidade-trans.html. Acesso em: 21 de out. 2013.