A fragmentação da cidade é produzida historicamente. Em uma conjuntura de globalização e de economia de mercado as fronteiras nacionais tendem a se abrirem. No âmbito das cidades, os mercados globais se instalam, enquanto os poderes públicos se aliam à iniciativa privada. Os centros urbanos se tornam locais de comércio. As ocupações dos que não têm moradia estão sujeitas à ausência do Estado, à precariedade dos assentamentos. O território municipal é loteado aos empreendimentos imobiliários distanciados dos centro urbanos. As indústrias internacionais se instalam ao longo das rodovias. As periferias formam identidades comunitárias. As praças públicas são “adotadas” e significadas por instituições ou grupos sociais específicos em parcerias público-privado.
Em uma tentativa de conceituar a fragmentação espacial, Vasconcelos (2013, p. 8) distingue a fragmentação econômica e a fragmentação social. A primeira está ligada à complexa espacialidade das atividades econômicas (transportes, fábricas, comércio, escritórios, zonas portuárias, áreas industriais, etc.), cada uma delas seguindo uma lógica própria. A segunda é caracterizada por numerosas áreas com certa homogeneidade interna, conforme atributos como renda, instrução, ocupação, faixa etária, fecundidade, etnicidade, religião). Formam-se, assim, mosaicos econômicos e sociais.
“Assim, na fragmentação do espaço urbano capitalista é possível conceber uma divisão econômica do espaço e uma divisão social do espaço. A primeira deriva da complexa espacialidade das atividades econômicas, originando terminais de transporte, depósitos, fábricas, estabelecimentos atacadistas e varejistas, escritórios de serviços, hospitais e escolas. A espacialidade de cada uma dessas atividades responde a uma lógica própria, vigente no momento de sua implementação ou que, por eficiência continuada ou ainda por inércia, garante a localização de cada atividade. Zonas portuárias, áreas industriais, antigas e novas, espontâneas ou planejadas, áreas comerciais hierarquizadas ou dotadas de especialização funcional são o resultado dos intrincados processos que originam a divisão econômica do espaço urbano.
Já a divisão social do espaço urbano traduz-se em numerosas áreas sociais, cada uma caracterizada por uma relativa homogeneidade interna e heterogeneidade entre elas. Atributos como renda, instrução, ocupação, faixa etária, fecundidade, etnicidade, religião, status migratórios e qualidade da habitação definem o conteúdo de cada área. Há um mosaico social na cidade, com distintas formas e conteúdo sociais. O preço da terra, expressão cabal da valorização da propriedade latifundiária, e a proximidade dos centros de negócios – área central, subcentros e áreas especializadas -, assim como das áreas de amenidades naturais ou socialmente criadas e das áreas fabris, desempenham papéis fundamentais na estruturação desse mosaico social." (VASCONCELOS, 2013, p. 8)
Bibliografia
VASCONCELOS, P. Contribuição para o debate sobre processos e formas socioespaciais nas cidades. In P. C. VASCONCELOS; A.; CORRÊA, R. L.; PINTAUDI, S. M. (Orgs.) A Cidade Contemporânea – segregação espacial. São Paulo: Contexto, 2013.