O adjetivo hídrico tornou-se usual nos últimos meses, em vista da falta de água e da diminuição da vazão de rios que atingiu algumas regiões brasileiras. O "colapso" do Sistema Cantareira, no Estado de São Paulo foi um dos fatos mais noticiados. Nessa conjuntura, falar somente em "água", "falta de água", "abastecimento de água" não foi suficiente, e o adjetivo hídrico veio ampliar os sentidos relacionados, significando tudo o que pode estar relacionado à água, incluíndo-se aí posições de sujeito, práticas, instituições, processos, acontecimentos, tecnologias, Em uma matéria de jornal, notamos algumas ocorrências desse adjetivo:
"O Dia Mundial da Água, que é celebrado hoje, chega com um alerta preocupante para uma região de 30 milhões de pessoas que vivem nos arredores de São Paulo, Campinas, Santos, Vale do Paraíba e Sorocaba: a segurança hídrica dessa macrometrópole vai demorar pelo menos dez anos para ser atingida" (CRISE AMEAÇA, 2015, p. A6)
"Pesquisadores fizeram muitas críticas à gestão dos recursos hídricos paulista. Para José Galizia Tundisi, da Academia Brasileira de Ciências, a governança falhou." (CRISE AMEAÇA, 2015, p. A6)
"O diretor da Sanasa lembrou que estudos mostram que a Macrodmetrópole vai precisar aumentar a disponibilidade hídrica em 60 m2/s e vai ser difícil conseguir essa água"
(CRISE AMEAÇA, 2015, p. A6)
A palavra aparece nas locuções recurso hídrico, segurança hídrica, disponibilidade hídrica. São palavras técnicas que ultrapassam seus domínios de especialidade e passam a circular na mídia, no senso comum, nos discursos políticos e administrativos, entre os moradores. Assim, esse adjetivo significa a "água" não somente como um objeto de consumo, mas em seu processo de produção: de onde ela vem, como ela é captada, armazenada, tratada, distribuída, utilizada, reutilizada, gerida, etc. Os "recursos hídricos" envolvem aí o conjunto de situações em que a água se apresenta. Já as palavras "segurança hídrica" e "disponibilidade hídrica" apontam para discursos político-administrativos, trazendo à tona os diversos protagonistas que compõem a cena do debate público: gestores, instituições administrativas, técnicos, representantes de governo, etc.
Outra palavra que assinala esse panorama mais amplo é "governança"', neologismo que significa não só membros de governo mas uma série de posições envolvidas na busca de decisões e soluções para as questões a tratar. Essa palavra coloca-se numa relação de sinonímia com gestão, que vem de certo modo substituir administração, e daí surgem outros neologismos, como a locução gestão de risco, que marca as incertezas nas práticas de gestão dos recursos hídricos.
Bibliografia
CRISE AMEAÇA 30 MILHÕES DE PESSOAS. CORREIO POPULAR, Campinas, 22/03/2015, p. A6.