O nome coletivo tem sido utilizado contemporaneamente para significar modos de organização de movimentos sociais, manifestações, protestos, reivindicações, e também diversas formas de trabalho em grupo. Os sujeitos dos coletivos são configurados como “grupo de indivíduos”, de modo a se trabalhar a contradição entre grupo e indivíduo, entre colaboração e liberdade.
As práticas dos coletivos têm se inserido amplamente na sociedade, e ao fazê-lo buscam demarcar os sentidos, sintonizando suas ligações e seus limites diante de outras práticas estabelecidas. Esses ajustes de sentido não se dão sem desencadeamento de polissemias, questionamentos, falhas, deslizamentos.
Observemos abaixo o modo como um coletivo de fotógrafos é significado em um texto que busca refletir sobre o aparecimento e a multiplicação deles:
“Em suas várias configurações possíveis, os coletivos de fotógrafos podem se confundir com uma cooperativa ou agência de fotografia, um banco de imagens, uma ‘indústria’ que otimiza a produção de obras visuais complexas; também com um laboratório de experimentação de linguagens, um grupo de estudos e pesquisas, uma produtora de eventos culturais. Muitos coletivos se identificam com uma ou outra dessas atividades. Alguns poucos se destacam pela liberdade de atuar simultaneamente em todas essas frentes. Não existe um discurso uniforme que dê conta de tudo o que hoje pode ser chamado de coletivo.” (ENLER, 2015).
Em meio a esses discursos de formação, de fundação, de institucionalização, sujeitos a uma série de “equívocos”, algumas regularidades podem ser identificadas. Considere-se incialmente que os coletivos se constituem com apoio em redes sociais por meio da tecnologia da Internet. A rede e o coletivo estão materialmente ligados, e isso determina sua forma de organização.
Algumas características dos coletivos são:
• tensão entre “núcleo central” e “descentralização”. Os coletivos apresentam um “núcleo central”, que apoia o grupo, mantém sites na Internet, fomenta discussões, divulga eventos locais, orienta atividades, ajuda no diálogo entre indivíduos e instituições. Com a descentralização, os organizadores locais, organizadores nacionais, apoiadores, colaboradores se responsabilizam, colaboram, compartilham trabalhos, se disponibilizam, se engajam.
• horizontalização e negação da verticalização. Pela mobilização em rede, as relações são consideradas “horizontais”, “coletivas”, sendo todos “membros” do coletivo. Para isso, faz parte desse discurso a negação das relações de verticalidade, incluídas aí as figuras de: líderes, coordenadores e diversas outras formas de autoridade hierárquica.
• deslocamentos na noção de autoria. Os trabalhos realizados em forma de coletivo, de um lado, questionam a autoria individual, sustentando uma autoria coletiva: o nome do coletivo se apresenta como marca de uma autoria de grupo. Ao mesmo tempo, na medida em que se trata de grupos de indivíduos ou de instituições, de diferentes procedências, há uma ampla margem de iniciativas individuais, locais, que se instalam nos coletivos, com suas marcas de autoria.
Bibliografia
ENTLER, Ronaldo. Os coletivos e o redimensionamento da autoria fotográfica. Studium, nº 32, p.. 33-51. Campinas: Laboratório de Media e Tecnologias de Comunicação/UNICAMP. Disponível em: http://www.studium.iar.unicamp.br/32/3.html. Acesso em: 12/04/2015.
MARCHA DA MACONHA. [Site a favor da legalização da maconha]. [S.l.], [20--]. Disponível em: http://www.marchadamaconha.org. Acesso em: 04 jan. 2013.