Ciber – Ciberespaço – Cibercidade – Comunidades virtuais – Tecnologias digitais
Pierre Lévy, em seu livro Cibercultura (1999), definirá alguns termos que fazem parte do espaço virtual. O autor (1999, p. 130) entende a cibercultura como a expressão da aspiração de construção de um laço social
que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre as relações de poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. O apetite para as comunidades virtuais encontra um ideal de relação humana desterritorializada, transversal, livre. As comunidades virtuais são os motores, os atores, a vida diversa e surpreendente do universal por contato.
André Lemos (2008, p. 11), relacionando sociedade, tecnologia e cultura, salienta que o termo cibercultura está “recheado de sentidos”, mas que podemos compreender a cibercultura como “a forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônica que surgiram com convergência das telecomunicações com a informática na década de 70.” Ainda para o autor (2008, p. 11), a cibercultura é a “cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais”, como consequência direta da evolução da cultura técnica moderna. Assim, a cibercultura “nasce no desdobramento da relação da tecnologia com a modernidade que se caracterizou pela dominação através do projeto racionalista-iluminista, da natureza e do outro” (LEMOS, 2008, p. 11). Portanto, o termo passará a produzir sentidos com o advento das tecnologias digitais, da sociedade em rede.
Lemos (2008) falará em leis da cibercultura. Para ele, haveria três leis. A primeira lei seria a da Reconfiguração, não substituição ou aniquilamento: “Em várias expressões da cibercultura trata-se de reconfigurar práticas, modalidades midiáticas, espaços, sem a substituição de seus respectivos antecedentes” (LEMOS, 2008, p. 18). A segunda seria a da Liberação do pólo de emissão:
As diversas manifestações socioculturais contemporâneas mostram que o que está em jogo como o excesso de informação nada mais é do que a emergência de vozes e discursos anteriormente reprimidos pela edição da informação pelos mass media. A liberação do pólo da emissão está presente nas novas formas de relacionamento social, de disponibilização da informação e na opinião e movimentação social da rede. Assim chats, weblogs, sites, listas, novas modalidades midiáticas, e-mails, comunidades virtuais, entre outras formas sociais podem ser compreendidas por essa segunda lei (LEMOS, 2008, p. 20).
A terceira lei seria a da conectividade generalizada que
começa com a transformação do PC em CC [computador conectado], e desse CC móvel. As diversas redes sócio-técnica contemporâneas mostram que é possível estar só sem estar isolado. A conectividade generalizada põe em contato direto homens e homens, homens e máquinas mas também máquinas e máquinas que passam a trocar informação autônoma e independente. Nessa era da conexão o tempo reduz-se ao tempo real e o espaço transforma-se em não-espaço, mesmo que por isso a importância do espaço real e do tempo cronológico, que passa, tenham suas importâncias renovadas (LEMOS, 2008, p. 20).
Dessa forma, com a emergência da cibercultura, novas formas de relacionar-se com o outro são constituídas. O indivíduo só conectado na rede não está mais isolado, está entremeado por discursos, culturas, sentidos que o interpelam e o constitui como sujeito do ciberespaço, da cibercultura.
Em um trecho do debate Educar na Era Digital (http://www.youtube.com/watch?v=hCFXsKeIs0w), Lemos ressalta que a cibercultura é a cultura da leitura e da escrita. A cibercultura traz a possibilidade de ampliação da leitura em várias línguas e formatos. Para o autor, com a cibercultura não temos só o leitor, mas também o escritor, uma vez que o sujeito, o qual circula na rede, não apenas lê como também escreve. No ciberespaço, o sujeito em rede, imaginariamente, amplia suas formas de socialização, suas atividades sociais, seu espaço de convivência.
Diniz (2008, p. 13) vê a cibercultura como “um produtor próprio, e que se inscreve estruturalmente na informática e na Internet e na Word Wide Web (WWW), por meio de espaços e elementos tanto de produção quanto de veiculação de produtos culturais disseminados na Rede”. Para o autor, a cibercultura é um espaço de divulgação e circulação de elementos culturais na rede. A cibercultura não seria um movimento em si, mas um espaço que permite que movimentos culturais tenham sentidos.
Na Wikipédia, cibercultura (“junção da palavra cibernética e cultura”) é definida como a
cultura que surgiu, ou surge, a partir do uso de computadores através da comunicação através de computadores. A indústria do entretenimento e o comércio eletrônico. É também o estudo de vários fenômenos sociais associados à internet e outras novas formas de comunicação em rede, como as comunidades on-line, jogos de multi-usuários, jogos sociais, mídias sociais, realidade aumentando, mensagens de texto, e inclui questões relativas à identidade, privacidade e formação de rede.
Na Wikipédia, a cibercultura é associada tanto à cultura que circula na rede, na internet, como a comércio de entretenimento. Temos nessa definição a presença de um discurso econômico, de um discurso da segurança (identidade, privacidade) no espaço digital.
Coloca a Wikipédia ainda que o termo cibercultura contempla “todos os fenômenos relacionados ao ciberespaço, aqueles fenômenos associados às formas de comunicação mediada por computadores”. Assim, para a Wikipédia, a cibercultura está relacionada a uma forma de comunicação em que o computador é a peça-chave para a circulação de sentidos.
Portanto, ao definir-se cibercultura, vemos a circulação de discursos relacionados ao surgimento de novas tecnologias digitais, de novas formas de relacionamento entre sujeitos conectados à rede, de novas formas de comunicação, de segurança, de comércio e de socialização.
Referências Bibliográficas
Cibercultura. https://pt.wikipedia.org/wiki/Cibercultura. Acesso em 13 de jan. de 2014.
DINIZ, L. A. G. Cibercultura, hipertexto e cidade: a literatura e as artes no contexto das tecnologias digitais. São José do Rio Preto: [s.n.], 2008.
LEMOS, A. C. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: ___.; CUNHA, P. (Org.) Olhares sobre a cibercultura. Sulina: Porto Alegre, 2003.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.