Revista Rua


A Copa do Mundo de Futebol de 2014 e o (novo) Mineirão
The 2014 Soccer World Cup and (new) Mineirão Stadium

Priscila Augusta Ferreira Campos e Silvia Cristina Franco Amaral

cidade. O conhecimento técnico-científico-informacional foi um dos responsáveis por essa transformação da paisagem. Isto é, a união entre ciência, técnica e informação fez com que a cidade tomasse outra dinâmica, uma vez que um objeto foi nela incorporado. Esse objeto, dentro desse espaço foi apropriado por sua população, tornando-se um lugar. De acordo com Santos (1996, p. 48), “é o lugar que atribui às técnicas o princípio de realidade histórica, relativizando o seu uso, integrando-as num conjunto de vida, retirando-as de sua abstração empírica e lhes atribuindo efetividade histórica”. Sem isso, seriam apenas objetos.
Nesse contexto, ser moderno representava ter um grande estádio, capaz de abrigar um número elevado de pessoas (mesmo sabendo que, nem em todos os jogos, essa capacidade máxima seria atingida) o que possibilitaria se firmar no circuito nacional do futebol, concorrendo diretamente com Rio e São Paulo que, como foi visto, eram hegemônicos em termos políticos, econômicos e futebolísticos. Além disso, há uma grande valorização do conhecimento científico, enfatizado através do elogio à competência e à habilidade dos bacharéis em engenharia e arquitetura. Este fato nos permite identificar a noção de progresso e desenvolvimento presente aquele tempo, ao mesmo tempo, nos remete a divisão social do trabalho, uma vez que cita os que pensam a obra (engenheiros e arquitetos) e os que a executam (mestre de obras e encarregados). Somado a isso, o Mineirão tornou-se um monumento para a cidade de Belo Horizonte.
De acordo com Assumpção (2004), a construção do Mineirão se deu em um período em que no Brasil havia uma ideologia da “monumentalidade”. Para Le Goff (1990), a palavra monumento exprime a memória, aquilo que perpetua a recordação. Pode ser, também, uma obra comemorativa de arquitetura ou de escultura. Assim, o monumento é um sinal do passado que fica para a posteridade e que se configura como uma forma de poder.
Dessa forma, “o monumento tem como característica o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva)” (LE GOFF, 1990, p.536).

As sociedades constroem espaços nos quais seus valores, seus momentos históricos, sua memória coletiva, seus rituais, possam se perpetuar. Por essa razão, levantam importantes edifícios, grandiosos monumentos, magníficas obras de arte talhadas na pedra e no mármore. Nesses espaços, as pessoas compartilharão memórias, experiências, lembranças comuns e projetarão sua vontade coletiva em direção ao futuro (ASSUMPÇÃO, 2004, p.148).