Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

Diante da repercussão que teve o fato – uma vez que Julian Assange foi preso (ainda que sob acusação diversa, uma vez que o governo dos Estados Unidos estava em busca de argumento legal para processá-lo) e que os diversos sites que arrecadavam fundo para a organização cancelaram seus serviços relacionados à Wikileaks (ainda que sob protestos e invasões de hackers) – busca-se, no presente trabalho, discorrer acerca dos gestos de interpretação sobre esses arquivos (sigilosos) e a circulação de seu sentido em diferentes discursos sobre esse objeto. Para isso, primeiramente, será exposto um breve dispositivo teórico; em seguida, será descrito o processo de seleção do corpus, bem como o procedimento de análise, que virá em sequência. Por fim, serão apresentadas as considerações finais.
 
1. Sujeito e arquivo.
 
O discurso, de acordo com a perspectiva da Análise do Discurso (AD), é efeito de sentidos que se materializa na língua. Por esse motivo, é necessariamente marcado pela significação que adquire não em função daquilo que o sujeito quis dizer, mas sim pela relação entre o dizer e a condição sócio-histórica da materialização desse dizer, constituindo-se, assim, por diversos outros discursos.
Desse modo, o sujeito tem somente a ilusão de que é dono do seu dizer.  Como afirma Orlandi, há um duplo momento na constituição da subjetividade. No primeiro, o indivíduo, interpelado pela ideologia, é sujeito, ‘forma-sujeito histórica’, o que produz o assujeitamento; no segundo (que não necessariamente é posterior, dado que não se trata de uma perspectiva cronológica), o sujeito se estabelece em função das relações sociais guiadas pelo Estado, o qual “individualiza forma-sujeito histórica, produzindo diferentes efeitos no processo de significação” (ORLANDI, 1999, p. 14), ou, como afirma Magalhães e Mariani, trata-se de uma relação “visível e a partir da qual é possível adaptar o sujeito ao social” (2010, p. 3). A passagem do primeiro para o segundo momento supõe a inscrição naquilo que é simbólico, “estabelecimento (e deslocamento) das formas de individua(liza)ção do sujeito em relação ao Estado” (MAGALHÃES; MARIANI, 2010, p. 3). Todo o discurso, então, seria regido por forças ideológicas que atuariam determinando o que deve ou não ser dito. Como afirma