Revista Rua


Wikileaks: Discurso e confidencialidade em arquivos
Wikileaks: Discourse and confidentiality in files

Andressa Carvalho Silva-Oyama

Outra caracterização sobre a Wikileaks pode ser observada na entrevista dada pelo fundador, Juliam Assange[7], ao TED:
 
Entrevistador: Bem vindo, Julian Foi divulgado que o WikiLeaks, seu bebê, divulgou... nos últimos anos divulgou mais documentos sigilosos do que o resto de toda a mídia do mundo junta. Isso pode ser verdade?
 
            Observa-se, primeiramente, que o entrevistador individualiza a organização, ao colocar o fundador como sendo o “pai” de um bebê denominado Wikileaks. O discurso - marcado por uma afetividade de um discurso familiar ou maternal - traz uma individualização da organização na pessoa de Assange, que é, assim, caracterizado como o sujeito unívoco desse discurso “que leva à revelação de informações sigilosas”. Além disso, estabelece-se uma relação dicotômica entre o discurso da mídia e o discurso da Wikileaks, individualizado em Assange. Ora, a mídia caracteriza-se por informar; a Wikileaks, por “divulgar documentos sigilosos”. Esse paralelo coloca em mesmo nível o que possui características diferenciadas, o que será visto posteriormente neste trabalho.
           
4. Gestos de interpretação sobre arquivos
 
Como foi apresentado na fundamentação teórica, segundo Nunes (2011), há todo um processo de leitura e interpretação de arquivo no qual as posições históricas e sociais não devem ser descartadas. Além disso, o arquivo pode tanto apaziguar, quanto ameaçar. Ressalta-se, no entanto, que, no presente trabalho, não são observados os discursos sobre arquivo enquanto memória de Estado, mas antes enquanto discurso não circulável, ou mesmo não ‘informável’. Um discurso de arquivo que deveria permanecer no ‘oculto’, de modo a manter o ‘equilíbrio social’.
Esse parece ser justamente o alvo da ruptura de ritual ideológico a que se propõe a Wikileaks. Seriam sujeitos que, não legitimados a publicar ou a fazer circular essa informação, romperiam com as barreiras de silenciamento local, levando a um impasse em Direito entre o que é ilegal e o que é aético. Há o ‘empoderamento’ de uma posição discursiva que seria barrada ao sujeito. Como afirma Guimarães, “estar identificado pela divisão da língua é estar destinado, por uma deontologia global da língua, a poder dizer certas coisas e não outras, a poder falar de certos lugares de locutor e não de outros, a ter certos interlocutores e não outros” (2002, p. 21). Por esse motivo, nota-se que há a


[7]http://blogladob.com.br/geral/entrevista-legendada-com-julian-assange-criador-do-wikileaks/