Revista Rua


Rumores e sabores de uma feira: Culinária popular e cosmopolitismo banal em Cuiabá
The rumours and flavours of a fair: Popular cuisine and banal cosmopolitanism in Cuiabá

Yuji Gushiken, Lawrenberg Advíncula da Silva e Adoniram Judson Almeida de Magalhães

apreciado em sucos), manga (principalmente da variedade bourbon), lima, cajá, seriguela, além do guaraná em pó trazido do Norte do país e “cuiabanizado” pelo hábito do consumo. As aguardentes são consumidas com ervas e outros produtos vegetais: nó-de-cachorro, barbatimão, canela, arnica. A culinária popular, em Cuiabá, extrapola, e muito, a eleição reducionista de um único símbolo, quando se caracteriza exatamente pela variedade e fartura.
A culinária tradicional na cidade contemporânea se apresenta em meio a um processo de hibridação cultural próprio das condições históricas que formataram as sociedades latino-americanas, incluindo a brasileira, no desenvolvimento do capitalismo histórico. Toda a produção da culinária tradicional local divide espaço nos dias de hoje com a chamada comida mundializada, produzida tanto em sofisticados restaurantes, lojas de redes de franquia e modestos equipamentos montados nos populares lanches de rua: cachorro-quente, hambúrguer, cheese-burger, pizza, pastel, sushi, caneloni, espagueti, muffin, cookie, taco, churro, baguete, quibe, esfiha, pão de queijo, chipa, estrogonofe, batata frita, batata assada com recheio.
Na diversidade das práticas de consumo alimentar, o jornalismo econômico local noticia na mesma época a expansão das cadeias de refeições rápidas (enquadráveis na categoria do chamado fast-food) na cidade. Em 2010, duas empresas de origem americana (McDonald’s e Subway) e uma brasileira (Bob’s) ampliavam suas redes de lojas em número de franquias em Cuiabá e no interior de Mato Grosso.[6] A instalação e a expansão das redes de refeições rápidas indicam as transformações por que passam os hábitos alimentares da população que se torna eminentemente urbana nesta primeira década do século XXI. Simultaneamente, a Nestlé, multinacional da área de laticínios, anuncia sua entrada com mais vigor no mercado consumidor das classes C, D e E em Cuiabá e posteriormente no interior de Mato Grosso[7], na medida em que consolida na cidade o que se chama de “sociedade de consumo”.
No processo de globalização da economia e da mundialização da cultura (ORTIZ, 2006) é que as culinárias regionais passaram mais enfaticamente apenas do valor-de-uso, produzidas para o deleite dos rituais de sociabilidade cotidiana, ao valor-de-troca, já na condição de mercadoria. A maior presença da comida típica da região no


[6] BAZANI, Silvana. Grandes marcas começam a se consolidar no Estado. Folha do Estado, Economia, pp. 23, 20 jun. 2010.
[7] DALMAGRO, Josiane. Projeto da Nestlé chega a MT. Folha do Estado, Economia, p. 25, 20 jun. 2010.