funcionamento sócio-historicamente determinado na cidade. Em muitas cidades, o estatuto de rua e avenida se define pela diferença de área (largura) ou pelo paisagismo das vias públicas, etc. No caso de Pontes e Lacerda, como apontamos no início do trabalho, o estatuto de Rua e Avenida se dá pela direção da via pública na cidade. (direção aproximada de Norte-Sul/ Leste-Oeste). Podemos assim dizer que a palavra Rua ou Avenidadetermina e é determinada como nome de via urbana por aposição: Rua/Avenida + nome, no caso, nomes de estados. Tanto que dizer Rua Minas Gerais não é mesmo que dizer Minas Gerais.
II) Funcionamento semântico-enunciativo
Antes de discutir especificamente o funcionamento semântico-enunciativo, consideramos produtivo trazer para este estudo a noção de espaço de enunciação discutida por Guimarães. Conforme o autor, considerar espaço enunciativo é pensar o espaço de funcionamento da língua dividida. “São espaços constituídos pela equivocidade própria do acontecimento: da deontologia que organiza e distribui papéis, e do conflito, indissociaciado desta deontologia, que redivide o sensível, os papéis sociais” (2005, p. 18). Assim sendo, dar nome a uma rua é estar identificado por uma deontologia
[4], no caso, a necessidade de produzir um endereço que faz com que se nomeie, em Língua Portuguesa, um espaço urbano pertencente a uma cidade que, por sua vez pertence a um estado, e este a um país.
Considerando a condição sócio-histórica que expomos acima, diríamos que funciona aí um jogo de relação entre cidade/estado/país como unidade/espaço nacional. Assim, afetado por essa relação institucional é que o acontecimento de linguagem divide e redivide o real para os sujeitos pontes-lacerdenses, identificando ruas e avenidas como espaço da cidade. Como vimos em Guimarães (idem), a nomeação de rua é sempre uma enunciação de outra enunciação anterior. No caso em estudo, na enunciação em que se dão as nomeações das ruas e avenidas de Pontes e Lacerda, a enunciação toma e inclui as enunciações que, num momento anterior, nomearam os estados do Brasil. Nessa perspectiva, Guimarães (2005, p. 50) observa que “um aspecto interessante do funcionamento semântico-enunciativo é que na cena enunciativa da nomeação das ruas um locutor-oficial está tomado por um memorável (enunciação de nomes de pessoas, datas, etc.).” Acrescentaríamos para o caso em estudo, que o locutor-oficial estátomadotambém por um memorável de enunciação que nomeia as vias públicas em ruas ou avenidas.
[4] No sentido em que considera Guimarães 2005 a partir da formulação que lhe deu Ducrot (1972)