Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

Considerações Iniciais
 
Temos por objetivo problematizar o processo de construção da identidade dos docentes da etnia Terena, com formação superior oferecida pela sociedade dominante, mas que “resguardam” a identidade étnica. A fundamentação teórica transdisciplinar desta pesquisa, a partir das perspectivas discursiva e culturalista, trazem estudos de Coracini (2003, 2007), Eckert-Hoff (2008), Foucault (1990, 1992), Bauman (2010), entre outros.
Para melhor entendimento das condições de produção dos discursos ora analisados, retomemos o período da história da colonização do Brasil pelos portugueses: a língua portuguesa foi “imposta” aos índios como premissa da catequização, no entanto, conforme Orlandi (2002), a ideologia implícita na ação de catequizar era a da implantação do Estado Nacional, da língua oficial, por Portugal, no século XVI.
A etnia Terena, que hoje vive na Região Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, temorigem no grupo Aruák (família linguística), vindo do Chaco Paraguaio, que se subdividiu em outros subgrupos (Guaná e Txané), dos quais temos o povo Terena que se instalou no centro-oeste do estado (OLIVEIRA, 1976). Atualmente, o povo Terena passa por mudanças significantes na educação, uma vez que, no Brasil, do século XVI até praticamente metade do século XX, a educação escolar indígena esteve pautada pela catequização, pela civilização e pela inserção forçada dos índios à sociedade nacional: sempre negando a diferença e, assim, tornando-os “brasileiros”, obrigava-os a refutar a sua identidade étnica.Somente em anos recentes esse quadro começou a mudar e pôde contar com várias experiências nas diversas regiões do Brasil, constituindo projetos educacionais adequados à realidade sociocultural dos grupos indígenas por meio dos estudos da interculturalidade e do bilinguismo, fundamentados no Parecer 14/99. (BRASIL, 1999).
Como ponto de equilíbrio, o ensino bilíngue, no contexto indígena, situa-se entre os valores culturais representados pela língua materna e os saberes universais veiculados pela língua nacional. Há que se atentar, no entanto, para uma situação de bilinguismo real e para a tentativa de implementá-la, pois,  na maioria das escolas em que os sujeitos entrevistados atuam, dentre elas Cachoeirinha, Lagoinha e Água Branca, as comunidade são falantes e o ensino pode ser considerado bilíngue, porque tanto os professores quanto os alunos são bilíngues (utilizam as duas línguas, a Terena e a Portuguesa) em sala de aula, nas diversas disciplinas e fora da escola também. Já nas