Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

Pode-se depreender, a partir das escolhas lexicais propostas por SP1, que os efeitos de sentido estreitam-se para a complexidade e o conflito interior vividos pelo sujeito, pois, nas recategorizações articuladas por ele para se referir à problemática da L1 entre os indígenas, a presença de FDs marca um discurso tenso, em “que o sujeito é sempre constituído por seus duplos: tudo é não-coincidência entre a pessoa e seu nome, entre o eu e o sujeito, entre a língua e sua cultura”. (ECKERT-HOFF, 2008, p. 66). São as relações de poder que se fazem instaurar em determinados momentos da história, a partir dos acontecimentos, que determinam as possíveis (re)ações dos sujeitos.
Vale notar que, também, o discurso de SP2 traz a representação da L2 como mecanismo de controle, que agrega a questão da língua à sobrevivência da etnia. Para ele, a exemplo do discurso do professor Genésio, trazido por Nincao (2008), sendo a L2 a língua majoritária, somente conseguirão ser índios se a “dominarem”, como veremos a seguir na resposta de SP2 à questão “Professor, como você vê a relação dos Terena com a língua materna e a língua portuguesa?”:
 
SP2- [...] então a linguagem ela é muito importante... eu tenho que dominar a minha linguagem e também da sociedade... entendeu... [...] porque sem a linguagem da sociedade envolvente a gente também não consegue sobreviver... porque você tem que fazer documento... oficio pro prefeito... oficio pra secretaria da educação e vários outros... entendeu... eu acho assim que é: por isso que a gente tem que dominar... [...]
 
Há um diferencial no discurso de SP2 quanto à escolha lexical, ou seja, embora fale da língua, o sujeito usa o termo “linguagem” (como sinônimo); todavia, pela discursividade apresentada pelo sujeito-professor, as construções ideológicas trazidas por SP2 estão mais próximas da concepção de linguagem do que de língua, uma vez que o sujeito não discute apenas a estrutura da língua em si, mas como ele a torna “viva” na sua funcionalidade.
Ao observarmos a sequência discursiva eu tenho que dominar a minha linguagem e também da sociedade, a compreensão do outro, discutida por Bakhtin (2006), coaduna-se com o dizer de SP2, pois, para o sujeito, o domínio de si e do outro só ocorre por meio da linguagem. Constituído pelo discurso de poder, por meio da perífrase de modalidade deôntica tenho que dominar, FD comum nos discursos de luta pela conquista de territórios, de terras, esse dizer vem revelar, pela dispersão, a ideologia da qual é constituído o discurso de SP2: somente a L1 não completa a identidade do sujeito; ele necessita do outro, mesmo que seja estranho, para se constituir. O “domínio” da minha linguagem refere-se à L1, que, embora citada em