Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

primeiro plano, encontra-se no mesmo patamar que a L2 e outras línguas (possivelmente o inglês e o espanhol, porque ambas também estão contempladas no currículo escolar dos Terena), línguas também da sociedade. Esse posicionamento de SP2 remete-nos a um“gesto de interpretação”: o sujeito passa por uma espécie de reinvenção do “eu”, dentro dos valores da (pós)modernidade e, de repente, muitos dos valores nele arraigados – comuns a povos de culturas consideradas diaspóricas, segundo Bhabha (2010) – promovem situações de cisão, ora positivas, ora não, dependendo da perspectiva.
Levando em consideração a política linguística dos Terena e, por meio dela, as conjunturas de poder, o “desejo imposto” pelo sujeito a si mesmo – tenho que dominar a L2 –, torna-se nítido que ele sabe do poder que lhe confere o ser proficiente também na língua de prestígio, o que lhe é caro e desejável.
Desse modo, a justificativa plausível encontrada por SP2 para argumentar a sua posição de aceitação/necessidade de conviver com duas ou mais línguas pode ser observada em porque você tem que fazer documento... ofício pro prefeito... ofício pra secretaria da educação e vários outros. A ideologia constituída no sujeito-professor é a de que ele sabe que a sociedade dominante, referenciada pelas vozes inscritas em prefeito, Secretaria da Educação e vários outros, não é falante da língua Terena, porque ela é uma língua “particular”, de um grupo minoritário, e quem tem de “aprender” a língua estranha, do branco, mas de prestígio, é quem deseja ser constituído por ela. Num contexto de bilinguismo diglóssico indígena, aprender a língua majoritária é realmente condição para continuar sendo índio. Essa conduta associa-se ao postulado de Foucault (1997) por meio de dois pensamentos linguisticamente distintos, mas que revelam e discutem a mesma ideologia de origem: a escrita como valor de verdade e o poder, mesmo na “subserviência”.
O ato de fazer documento em L2 e ser compreendido pelas autoridades trazidas por SP2, que, de certo modo, detêm o poder, instaura, no sujeito-professor, o desejo de igualdade, possibilitado pelo domínio da L2, que é a língua da sociedade dominante. Há, nesse ato de fala e de escrita, a busca pela comprovação de uma verdade (que o indígena compreende a língua do outro - L2) e por assim ser, “permite” ser compreendido pelo outro/branco e “fazer ser ouvido” por este, como se demarcando pontos de poder do micro (Terena) sobre o macro (Branco), mas no desejo de misturar-se a ele. Dessa maneira, nas palavras de Foucault (1992, p. 150), “escrever é, pois, ‘mostrar-se’, dar-se a viver, fazer aparecer o rosto próprio junto ao outro”, mas como