Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

situação ou quando são confrontados com uma possibilidade maior de comparações e escolhas que passam a “guiar” sua identidade. A coexistência do branco com o índio propiciou que este último pudesse observar e fazer suas escolhas no que se refere à questão identitária; antes dessa convivência, não havia essa possibilidade.
Embora haja a possibilidade de escolha de identidade para adaptação a determinadas comunidades, Bauman (2005, p. 18) considera que estar fora de seu local ou cultura de origem faz que o indivíduo seja considerado “deslocado” e cita, como exemplo, sua própria condição: polonês refugiado na Grã-Bretanha e perfeitamente ambientado nesse cenário, considerava-se um “estranho” dentro dele, embora também já não pudesse ser considerado polonês por ter sido privado de sua cidadania original. Sobre esse dilema, afirma: “As pessoas em busca de identidade se veem invariavelmente diante de uma tarefa intimidadora de ‘alcançar o impossível’” (BAUMAN, 2005, p. 16). Essa condição reflete a já citada condição do índio na atualidade: não pode ser considerado completamente indígena, pois já não traz apenas sua cultura de origem, nem pode ser considerado completamente branco, pois ainda há em si marcas de sua cultura e etnia que não permitem essa completude.
 
Palavras Finais
 
            Este trabalho teve como meta tecer reflexões sobre as representações de língua (Terena e Portuguesa) como mecanismos de defesa na relação com o branco, no bojo da sociedade hegemônica.
Pode-se afirmar que os discursos dos sujeitos das sequências discursivas, SP1 e SP2, se constituem por meio das formações discursivas que oscilam entre o passado e o presente, via memória discursiva, mas sob dois vieses: ora a L1 é representada como mecanismo de controle, ora a L2 é quem recebeu esse lugar, no entanto sempre perpassada pelas relações de poder, ao longo da história.
A representação da língua Terena como mecanismo de controle remete-nos ao aqui-agora, que pôde ser observado, sobretudo pela recorrência ao espelhamento da sociedade sobre a representação do que é ser “índio verdadeiro”, que delega a este a incumbência de falar a língua indígena para que, somente “provando” a indianidade pela proficiência na L1, possa usufruir dos benefícios destinados apenas aos tutelados.
Esse mecanismo de controle vem permeado pelos discursos de defesa ao poder do branco por duas óticas: a aprendizagem da L2 e também da L1 simultaneamente, ou