Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

demais escolas (Lalima, Limão Verde e Aldeinha), o que de fato existe, na “grade curricular”, são as disciplinas Língua Terena e Língua Portuguesa. Nesse caso, há o ensino da língua materna (Terena), mas as relações de ensino se dão em língua portuguesa, embora os sujeitos entrevistados nesta pesquisa, com exceção de apenas um deles, sejam bilíngues.
É a partir do contexto histórico em que a comunidade Terena está situada – implantação e reestruturação de escolas indígenas nas aldeias, formação superior de professores indígenas (além de pós-graduação) e projetos de fortalecimento da língua materna – que se esteia a nossa pesquisa.
É na esteira da discussão apontada que buscamos, preliminarmente, em estudos de Coracini (2003), a noção de língua materna e a sua relação com outra no caso do bilinguismo:
 
Língua materna significa etimologicamente língua da mãe, ensinada pela mãe [...]. Na escola, tem-se assumido como língua materna aquela em que a criança foi alfabetizada, língua que coincide, em muitos casos, embora nem sempre, com o registro oficial – padrão – do país em questão; outras vezes, com a língua nacional, sem levar em conta a primeira língua em que a criança aprendeu a falar. [...] “Língua materna” indica também a primeira língua adquirida, mas há casos – e são inúmeros – em que a criança aprende duas ao mesmo tempo (situações de bilinguismo). (CORACINI, 2003, p. 145).
 
O fato que nos chama a atenção é que, no caso dos Terena, a situação bilíngue instaurada não permite que se distinga a língua materna da língua estrangeira, porque, dentre as aldeias pesquisadas da Região Aquidauana, não há comunidade que só fale em Terena, mesmo que a considere como língua materna e não conceba a língua portuguesa como língua estrangeira. Embora não seja nosso objetivo levantar dados que propiciem ou não a vitalidade da língua Terena, para que compreendamos melhor a problemática da L1 e da L2 e o lugar que elas ocupam, é relevante citarmos o caso de duas aldeias que se distanciam por quatro quilômetros, mas, em uma delas, a Bananal, a comunidade é realmente bilíngue. Nela, a L1 é utilizada nas reuniões religiosas, de lutas pela terra, no convívio familiar e na escola; já na aldeia Ipegue, a L2 é a língua materna, e o Terena passa a ser apenas substrato linguístico, pois foi “substituído” em favor da língua nacional, restando somente vestígios desta.
Ressaltamos ainda que os Terena, além de pertencerem a um grupo culturalmente distinto do branco, diferem de outros grupos étnicos também. Eles são constituídos por particularidades das quais destacamos a estratégia de mobilidade político-linguística, isto é, as duas línguas são sinônimos de poder. Assim, a resistência