Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

pela sobrevivência da língua Terena vem sendo articulada e representada, pelos indígenas, por meio de estratégias variadas ao longo da história e conforme as políticas da sociedade hegemônica.
É característica dos Terena, conforme asseveram Ladeira e Azanha (2004), a mobilidade, traço que favorece os estereótipos sociais, “tais como ‘aculturados’ e ‘índios urbanos’”, mas que reafirmam a resistência de um povo-minoria em relação ao poder da sociedade majoritária. Podemos afirmar, de acordo com relatos orais[1], que tais traços constituintes da identidade do povo Terena impulsionam sua inserção no mundo dos brancos e a luta pelo seu espaço, podendo ser caracterizado, por esses aspectos, como um povo expansionista.
A análise dos dados pauta-se na metodologia foucaultiana (1990; 1992), a partir dos pressupostos teóricos da arqueologia discursiva e da genealogia do poder. O corpus deste estudo é constituído de entrevistas com professores indígenas, todos com formação superior (Normal Superior Indígena), realizada in locu ( em aldeais da região Aquidauana – MS), utilizando-se de recursos midiáticos (gravador, notebook e microfone) para coleta dos dados, além de um questionário pré-organizado, com questões que abordavam o tema em pauta. A transcrição dos dados (sequências discursivas) foi realizada por nós e procurou ser o mais fiel possível aos alongamentos, à altura da voz e às ênfases, fatores significativos nesse gênero textual. Assim foram representados: letras maiúsculas, ou seja, caixa alta (tom enfático), reticências (pausa simples) e dois pontos (pausa alongada), com base nos estudos de PRETI (2001).
Esclarecemos, ainda, que, ao nos referirmos à língua Terena, designamo-la como L1; à língua Portuguesa, coube a designação L2. Esse modo de referência foi selecionado para que se evitem ambiguidades nas questões de língua materna e língua estrangeira, uma vez que as condições de produção alertam-nos para a possível problemática.
Nesse cenário de “disputa” e “escolhas”, instaura-se mais uma vez a batalha política linguística dos Terena, povo constituído por grande poder de mobilidade (talvez o ethos dessa etnia) em pleno século XXI, com indígenas de ambos os sexos, em busca  por formação superior, particularmente na área de Educação e, ainda, por iniciativas de projetos para fortalecimento da língua terena, é que delineamos nosso estudo.


[1]Entrevistas realizadas com um grupo de professores Terena no período de 24 a 26-08-2010, cujos recortes de enunciados compõem parte do corpus desta pesquisa.