Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

As questões da língua e da linguagem e seus fundamentos
 
As questões de língua, a partir dos estudos iniciados no século XVI, com o advento da gramática de Port-Royal, segundo Cardoso (1999), passaram a ser decisivas para se compreender a estrutura e o funcionamento da língua e suas inúmeras possibilidades de uso, concebida, a partir de então, para além se sua estruturação linguística, com estrutura finita, mas como algo necessário, com função e condição de comunicação, em uso na interação dos indivíduos com o mundo e com a cultura. A carga ideológica que constitui uma língua leva, simultaneamente, a representá-la como instrumento de poder. Assim, a característica da língua como um simulacro de unidade remete-nos para um viés de desconstrução da língua como pura e única.
Nessa perspectiva, é pertinente trazermos para a discussão o conceito de “mito do monolinguismo” discutido por Cavalcanti e César (2007), que corroboram a relevância do tema em se tratando de línguas minoritárias (a exemplo da Terena) e língua nacional (Portuguesa). Para as autoras, tal advento ignora as línguas nacionais minoritárias (línguas indígenas, dialetos de imigrantes, Libras, entre outras) em favor da língua nacional, como se todos os habitantes da nação falassem uma única língua, a dita oficial.
São configurações apresentadas semelhantes a essas que validam a afirmação de Mariani (2004, p. 27), de que caem por terra os discursos que “configura[m] o imaginário de uma unidade e de uma homogeneidade garantidora da intersubjetividade social e geográfica”.
Ao instaurar as discussões sobre a língua, trazemos também a concepção de língua de Bakhtin (2006), como uma entidade viva e signo ideológico-social, constitutiva da interação entre os sujeitos e utilizada como meio de reflexão nas diversas realidades.  Como um fato social, ela existe porque há necessidade de interação, e é nesse vácuo que surge a linguagem como condição enunciativa, que cria todo o processo de interação verbal. Conforme Bakhtin (2006), a linguagem está intrinsicamente ligada ao enunciado, como ato histórico e irrepetível; e é assim que se manifestam a língua e a linguagem no discurso, como interação dos envolvidos, como reveladora de toda a carga ideológica contida na produção discursiva, pois, em cada ação “linguageira”, as expressões adquirem sentidos distintos, marcadas pelos movimentos constitutivos da história dos sujeitos.