Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

No entanto, quando falamos de língua, não se trata somente da utilização desta na sua materialidade, nem tampouco só da linguagem, como língua em movimento; o discurso constitui um cenário em que estão envolvidos a língua, o sujeito e o espaço histórico cultural e social. Desse depreendimento, segundo Coracini (2007), é que a Análise do Discurso de linha francesa (AD) evoca três áreas do conhecimento: a Linguística, o Materialismo Histórico e a Psicanálise, que, articulados, têm como premissa os processos discursivos e suas relações ideológicas, ligados às relações de poder imbricados na/além da sua materialidade.
Pela sua estrutura material, a língua é capaz de produzir “verdades” e registrá-las, fazer-se compreender sob os múltiplos papéis sociais e ideológicos que ocupa. Daí as palavras de Foucault sobre a escrita como testemunha, pois, para o filósofo, ela “constitui uma prova e como que uma pedra de toque: ao trazer à luz os movimentos do pensamento, dissipa a sombra interior onde se tecem as tramas do inimigo” (FOUCAULT, 1992, p. 131).
Nessa direção, afirmamos, com Foucault (1987, p. 56), que o discurso não pode mais ser concebido como conjunto de signos, mas como uma prática que envolve outros objetos; em especial, como instância histórica e social. O discurso é a junção de saberes, organizando-se como práticas discursivas que revelam, por meio de escolhas lexicais, qual relevância ou qual silenciamento discursivo deve ser dispensado a determinados acontecimentos, à medida que o próprio sujeito assume uma posição discursiva. É desse emaranhado que surge o conceito de formação discursiva. Assim,
 
sempre que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão e se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições, funcionamentos, transformações) entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, teremos uma formação discursiva (FOUCAULT, 1987, p. 43).
 
Por meio do discurso, nessa perspectiva, o sujeito (inserido/parte da história) despe-se e desnuda suas identidades, mesmo que inconscientemente. Na concepção (pós)moderna, não há mais uma identidade fixa, essencial ou permanente. A esse respeito, Coracini (2007) afirma que a identidade torna-se uma “celebração móvel”, mesmo que o sujeito prime pela (in)alteração de valores, porque tem a ilusão de que é um sujeito com identidade definida, acabada. Há um esfacelamento daquela identidade definida porque a própria necessidade de interação social exige ou o momento histórico requer –, no entanto os conflitos surgem porque nem sempre a representação ostentada coincide com aquela que o sujeito gostaria de ter ou de “representar”.