Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

espelhamento da sociedade - o índio “verdadeiro” fala a língua indígena. Como a língua, nesse espaço, “ganha” outra concepção, avaliamos, pelas palavras de Foucault (1992, p. 142), que “o contraste desejado não exclui a unificação”. Assim, recorremos ao postulado do autor para compreender como as relações de força e poder permeiam as discursivizações, que, a partir das regularidades do arquivo, fazem emergir um discurso tenso e contraditório, tal qual assevera Coracini (2007), ora como gozo, ora como estranhamento.
Da perspectiva lacaniana, entendemos “mais gozar” como a condição do sujeito que deseja um “objeto-a-mais”, compreendido como causa do desejo e do gozo (cf. ECHERT-HOFF, 2008), aqui problematizado como o desejo de se alcançar um outro mundo, por meio da linguagem, como uma forma de se estar no outro, bem como de sair do “eu”. Tal desejo se estabelece por meio da falta, daí a ação de busca. Contudo, trata-se da manifestação inconsciente do querer-saber que gera poder, e necessariamente distinção dentro de um grupo social, bem como a sensação de completude. Dito de outro modo, um sujeito que vê no outro a possibilidade de completude e de gozo.
Vale dizer que todo sujeito se constitui de fragmentos de uma história, de sombras, de acontecimentos, uma descontinuidade, uma história de vida, em que o sujeito se reencontra e se perde. Assim, a análise de um campo discursivo busca compreender o enunciado em sua singularidade de acontecimento (FOUCAULT, 1987, p. 31), procurando elucidar as condições de sua emergência e estabelecendo relações com outros discursos. Para o autor, um enunciado é sempre acontecimento, uma vez que abre espaço para sua inscrição na memória já que é suscetível de repetição, transformação e reativação, sobretudo porque está ligado ao interdiscurso, ou seja, a outros enunciados que vieram antes e depois dele ou, no dizer de Orlandi: “aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente” (2009, p. 30). Ligada à memória discursiva encontra-se a noção de arquivo, aqui abordado pelas lentes foucaultianas como aquilo que:
 
faz com que tantas coisas ditas por tantos homens, há tantos milênios, não tenham surgido apenas segundo as leis do pensamento, ou apenas segundo o jogo das circunstâncias, que não sejam simplesmente a sinalização, no nível das performances verbais, do que se pôde desenrolar na ordem do espírito ou na ordem das coisas (FOUCAULT, 1987, p. 146).
 
Na atualidade, há toda uma discursividade no que se refere à identidade cultural, questão esta firmemente debatida na teoria social, sobretudo no que diz respeito à constituição das identidades étnicas, de minorias ou grupos marginalizados. Falar sobre