Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

sujeito na (pós)modernidade é abordar um tema complexo e até mesmo polêmico. Isso porque nós, ocidentais, vivemos em uma cultura baseada ainda em binarismos antagônicos em que cada ser ou objeto se distingue dos demais, a priori, pela diferenciação (bom/mau, homem/mulher, certo/errado, etc.). Nessa perspectiva, Eckert-Hoff (2008) pontua:
 
Falar em pós modernidade, portanto, implica designar algo que não é fixo e não pode ser sistematizado, já que não se trata de uma filiação a um modelo acabado e fechado; trata-se sempre e inevitavelmente, de uma contradição, uma descontinuidade, um curto-circuito de sentidos, o que implica um deslocamento com relação a racionalidade da ciência moderna e com relação às verdades instauradas na cultura ocidental. (ECKERT-HOFF 2008, p. 39)
 
Contudo, os processos de identificação não são construídos a partir da anulação de uma identidade em detrimento a outra, mas pela imbricação de imagens identitárias que se mesclam formando e (de)formando o sujeito, via o inconsciente, daí a impossibilidade se ser o que se deseja, ou de se mostrar como se quer ser visto. Dessa forma, além de perscrutar caminhos que envolvem questões históricas e culturais, a análise de discursos realizada neste trabalho mostra também a seleção de vocábulos e de determinadas expressões e construções sintáticas dentro dos excertos a serem analisados, posto que a materialidade linguística de tais enunciados constitui relevante “pista” que levará ao objetivo proposto.
 
A representação da língua (Terena e Portuguesa) como mecanismo de controle pelos sujeitos
 
Trazemos para esta discussão, apenas dois excertos transcritos por nós, parte dos dados coletados na entrevista com professores Terena, integrante da dissertação de mestrado intitulada “Um olhar discursivo para as representações de língua e linguagem de professores Terena”, defendida no Programa de Mestrado em Letras da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Os recortes remetem ao discurso de dois professores graduados em Normal Superior Indígena (o primeiro deles, pós-graduado em Ciências Sociais), falantes da língua Terena, e tanto os professores como as sequências discursivas a serem apresentadas foram selecionados dentre o corpus (entrevista transcrita), por atenderem aos objetivos deste trabalho. Os recortes foram organizados em SP1 e SP2.