Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

é o objeto teórico, o discurso; outra, são os nossos objetos de análise, os quais são muitos e de diferentes naturezas. Ao se eleger a dança como materialidade discursiva, por exemplo, sabe-se que não é um objeto novo. O que é novo “é o que podemos dizer sobre o nosso objeto, por causa da conjuntura histórica, das formas históricas de assujeitamento, da materialidade discursiva, das condições verbais do aparecimento da discursividade” (Ibid., p. 52-53). Embora estejamos tratando de fotografia, para ilustrar a questão teórica que vimos trazendo, buscamos em Orlandi suas reflexões acerca de uma estátua, a qual, inicialmente, nada colocaria à disposição de nosso estudo a não ser o fato de que tanto uma fotografia quanto uma estátua se constituiriam de outras materialidades discursivas. Porém, há um outro ponto, que consideramos um “ponto de encontro”: uma estátua, assim como uma fotografia, trabalham com imagem, e imagem não é a “coisa em si”, mas sua representação, a sua imitação, a sua reprodução.  Em uma, a imagem de monumentos; em outra, a imagem de uma figura da história. Diante disso, ressoa em nós o que Orlandi diz:
 
Uma estátua, assim como qualquer objeto simbólico, que aqui tomamos como um discurso, não significa apenas em si. Todo sentido é “relação a” (Canguilhem, 1990). E, no caso de uma estátua, também os discursos a atravessam, os que ela produz – uma estátua não fala, mas produz discursos e que são parte de seus sentidos. É este o recorte que trabalhamos: o discurso da estátua de Fernão Dias e os discursos sobre Fernão Dias que a atravessam (ORLANDI, 2011, p. 15, grifo nosso).
 
É esse o olhar que lançamos a um dos nossos objetos de análise, uma fotografia. É preciso nos referirmos a ela, pois é através dela que vamos dispor de uma imagem, constituída de  outra materialidade discursiva, e é ela que vai nos levar a monumentos.  Davallon (2007 [1983], p. 27), ao refletir sobre a imagem, afirma que ela se constitui em um operador de memória social, explicando-nos, com isso, que imagens “permitem estocar depois restituir o saber quase tão bem quanto os acontecimentos” (Ibid., p. 23). Porém, faz-se necessário explicitar as justificativas para a nossa escolha, o recorte que fazemos de uma imagem, estática, solitária, pensando numa possível desproporção que possa parecer se instaurar entre uma simples e amarelada fotografia e grandes (considerando como maior grau de importância o maior alcance das mídias) ou extensos documentários, na direção de que a abordagem de Davallon faz referência aos arquivos das mídias: pois nossa imagem, pela fotografia selecionada, significa, primeiramente, dentro de um específico, quem sabe até restrito espaço político-histórico e social e tem importância porque mantém/faz permanecer uma memória dentro dele, a qual se relaciona, de alguma forma, com a história, a pequena e a grande história, em que pese