Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

violência de Estado[13]. Cabe referir que, naqueles idos de 1937 a 1945, acontecia a Ditadura de Vargas, quando houve um processo de nacionalização dos imigrantes europeus no Brasil, o que se deu concomitantemente através da interdição das línguas maternas e da implantação do português nas zonas de colonização. Com medidas legislativas culturais e educacionais, os imigrantes foram convocados a abdicarem de suas línguas e, consequentemente de sua memória histórica. Zandwais (2007, p. 153) afirma que “é desta forma que se constrói, através da ‘letra da lei’, uma política de silenciamento, o antídoto contra a ‘desnacionalização’, ou, em outras palavras, a materialização da violência simbólica. Só assim poderão permanecer no interior da nação brasileira. Devemos acrescentar que tal interdição “não incide simplesmente sobre ‘uma língua estrangeira’, mas sobre sujeitos, sentidos e memórias presentes de modo central no seio da sociedade” (Payer, 2001, p. 242).     
Além disso, o que esta fotografia significa como discurso é que ficou como a prova da existência de um outro discurso que fez parte do real da história, pois, mais tarde – não sabemos/não conseguimos precisar quando – por um motivo qualquer, segundo alguns, para “alargar” a estrada, o bebedouro foi destruído, porque não mais significava o que significava: parada obrigatória/necessária para se tomar água e descansar. Se não existisse a fotografia, a memória se perderia.
Na sequência, trazemos outra fotografia, a de nº. 3, que não é o referencial para o nosso estudo, apenas traz, para este espaço, pela imagem que apresenta, a réplica do monumento construído a partir da fotografia anteriormente reproduzida.  Dessa materialidade, salientamos que o ato de reconstrução desse bebedouro, uma escolha, política e simbólica, só foi possível pela referência da fotografia primeira. Se aquela diz de como simbolicamente se representou, na década de 1920, o imigrante que ainda buscava a conquista de um espaço, pela língua, pelo seu imaginário, pela sua crença, pelo seu trabalho, hoje, século XXI, esta também o diz. Mas uma réplica não é o mesmo discurso. As condições de sua produção são outras, além da posição sujeito desse imigrante, que também é outra. Destacamos que, com essa “reconstrução”, o  Estado também quer se dizer outro, quer se ressignificar diante dos imigrantes, seus descendentes e diante de toda  a pluralidade étnica e cultural brasileira: é democrático, é


[13] Embora abordemos a violência simbólica, pela língua, houve violência física também. O artigo “Mordaça verde e amarela: imigrantes e descendentes no Estado Novo em Santa Maria e região”, de Cátia Dalmolin (p.81-112, em obra homônima, publicada em 2005, pela Palotti), documenta alguns acontecimentos dessa ordem.