Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

pluricultural, é de/pelo direito. Esse mesmo imigrante, outrora interditado, se (re)constrói e ergue suas metáforas, profere seu discurso construído por outras materialidades em plena praça pública, pelo poder público que neste outro tempo acessa como cidadão brasileiro, com dizeres em língua portuguesa, sua moeda de negociação. Não mais Santo Isidoro, agora ausente, mas, ao fundo, uma igreja e outros tantos santos. Não mais a necessidade da água, mas a referência à história, pela memória, coladas.  Não mais placa em italiano - nem fotografia de Getúlio Vargas (deste, há a reprodução de sua carta-testamento neste mesmo espaço público) - mas, em português, autorreferência e metalinguagem (monumento que fala de monumento). Não mais o apagamento, mas a reinscrição pela/na história. Espaço político, negociado, onde, na inscrição da placa, metonimicamente, não mais há espaço para “imigrante”, apenas para “antepassados”. Paráfrases e novo/outro significar?
De qualquer forma, para ambas as partes, é preciso suportar, se suportar, suportar o outro, o diferente. Afinal, refere Pêcheux (2009 [1975], p. 281): “não há dominação sem resistência: primado prático da luta de classes, que significa que é preciso ‘ousar se revoltar’”, nem que tal resistência se dê pela imagem (re)produzida na/pela fotografia; a memória, suporta a história; porém a história, interdita, corta, para poder fixar a sua versão. Espaços de pensar e de significar onde ninguém ocupa o lugar do outro. Concordamos com Pêcheux (Ibid.): é preciso pensar por si mesmo.
 
Palavras finais
 
Remontando-nos às questões que, do cancioneiro de Caetano Veloso, dá início a nossas reflexões, somos tentados a formular respostas, pois, como já referimos, muitos são os caminhos que se abrem para este pensar. Todavia, este não é o espaço construído pela AD, principalmente o de tentar verificar o que quer um discurso, até e principalmente porque o sujeito, tomado pelo inconsciente e sujeito à ideologia, tem somente a ilusão de poder e de domínio sobre a linguagem que o sustenta. Entretanto, para o que pode esta língua – e, principalmente, um discurso e esta ou outra fotografia - desafiamo-nos a lançar algumas formulações, entre elas, que pode, sim, dar conta de um sujeito afetado pela língua e pelo simbólico que escreve, reescreve, descreve e se inscreve em uma história e em uma memória – a qual se materializa, pelo verso, pelo verbo, pela grafia da imagem...“E deixa que digam, que pensem, que falem”, finaliza a voz da canção que não cessa de nos inspirar.