Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

discursiva, uma fotografia, à luz dessa teoria alicerçada no entremeio de três campos do saber, a Psicanálise, a Linguística e o Materialismo Histórico.
 
1. O que pode a teoria do discurso?
 
O termo língua é caro para todos que pensam a linguagem, de poetas e filósofos a linguistas e antropólogos. Para a Linguística, divisor de águas foi o Curso de Linguística Geral, publicado em 1916, a partir de cursos ministrados pelo linguista Ferdinand de Saussure. Como pontuam Gadet e Pêcheux (2004 [1981], p. 55), “Saussure constitui, direta ou indiretamente, a pedra de toque de todas as escolas linguísticas atuais, o seu ponto de partida crítico”, seja pela definição de qual é o objeto da linguística, passando pelo seu conceito de língua – “um sistema de signos” -, diferenciado do conceito de fala - o qual fora preterido no decorrer de sua obra, exatamente pelo estudo da língua -, seja pelo seu conceito de signo linguístico, até o estabelecimento das dicotomias dele constitutivas e, essencialmente, a noção de valor.
Assim, é preciso entender, segundo Petri (2004), que Saussure, naquele momento, fez uma clara e objetiva exclusão das questões relativas à constituição do sujeito e do sentido na linguagem, higienizando o que compreendeu como objeto de estudo da Linguística, a língua, porque somente algo homogêneo, passível de análise interna, poderia sê-lo. Ao escolher a língua, que em sua concepção faz a unidade da linguagem, “Saussure excluiu o sujeito, elemento retomado somente bem mais tarde por outros teóricos do nosso século, no campo das Ciências de Formação Social, sobretudo, nos estudos da linguagem” (Ibid., p. 66). Assim, Michel Pêcheux, fundador da Análise de Discurso nos anos 60 do século XX, vai repensar essa questão - do mesmo modo como outros teóricos voltam a pensar a noção de sujeito da linguagem, embora sob outras perspectivas, a exemplo de Roman Jakobson, do Círculo Linguístico de Moscou (1915), e Émile Benveniste, nas décadas de 60 e 70 do século XX. E, como nos atesta Henry (2010 [1975], p. 26), “é justamente para romper com a concepção instrumental e tradicional da linguagem que Pêcheux fez intervir o discurso”.
Embora o poeta que nos inspira dê - pelos versos “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Camões” e “Gosto do Pessoa na pessoa/ Da rosa no Rosa” [2] - ao termo língua um recorte que antes aponta à língua que se abre à pluralidade cultural


[2] Fernando Pessoa (1888-1935) e João Guimarães Rosa (1908-1967)