Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

lhes são correspondentes”. Entendemos, com isso, por que uma palavra ou expressão não tem um sentido que lhe seja próprio. Para Orlandi (2009, p. 43), que reitera o conceito de Pêcheux para formação discursiva, é isso que vai explicar por que as palavras não têm sentido nelas mesmas e, outrossim, derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem, representado no discurso as formações ideológicas que lhes correspondem.  Isso quer dizer que “é pela referência à formação discursiva que podemos compreender, no funcionamento discursivo, os diferentes sentidos” (Id.Ibid.). Assim, as mesmas palavras podem significar diferentemente porque se inscrevem em formações discursivas diferentes, enquanto também pode ser possível que palavras, expressões ou proposições literalmente diferentes possam ter o mesmo sentido no interior de uma dada formação discursiva, quando então teremos os processos discursivos, entendidos como um sistema de substituições dentro dessa formação discursiva, conforme o que postula Pêcheux (2009 [1975], p. 148).
Somos levados a examinar, antes mesmo de entramos em especificidades do que se constitui o discurso, as propriedades discursivas da forma-sujeito, do eu imaginário, como sujeito do discurso. Nesse caso, Pêcheux (Ibid.) distingue duas formas de esquecimento no discurso: uma, o esquecimento da ordem da enunciação, o esquecimento nº 2, que compreende que o dizer sempre poderia ser outro, o que formaria famílias parafrásticas, e que produz, em nós, a realidade do pensamento – uma ilusão referencial, quando haveria uma relação direta pensamento/linguagem/mundo; outra, o esquecimento ideológico, da instância do inconsciente, o esquecimento nº 1, o qual resulta do modo como somos afetados pela ideologia, sendo que, por ele, temos a ilusão de sermos a origem do que dizemos quando, na verdade, retomamos sentidos já pré-existentes, além da questão de que os sentidos são determinados pela maneira como nos inscrevemos na língua e na história. De acordo com Orlandi (2009, p. 36), o esquecimento é estruturante, é parte constitutiva do sujeito e do sentido. Essas “ilusões”, como as qualifica, devem ser entendidas como “necessidades para que a linguagem funcione nos sujeitos e nas produções de sentidos” (Id. Ibid.). Assim,
 
Quando nascemos os discursos já estão em processo e nós é que entramos nesse processo. Eles não se originam em nós. Isso não significa que não haja singularidade como a língua e a história nos afetam. Mas não somos o início delas. Elas se realizam em nós em sua materialidade. Essa é uma determinação necessária para que haja sentidos e sujeitos (ORLANDI, 2009, p. 35-36).