Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

Em outras palavras, quando sujeitos tornam-se sujeitos-falantes, há uma tomada de posição, a qual não deve ser concebida, de acordo com Pêcheux (2009 [1975], p. 160) como um “ato originário” do sujeito falante; ao contrário, deve ser compreendida como o efeito, na forma-sujeito, da determinação do interdiscurso, da exterioridade sobre si mesmo. Nesse sentido, Pêcheux (Ibid., p. 149) propõe chamar de interdiscurso “a esse ‘todo complexo com dominante’[5] das formações discursivas, esclarecendo que também ele é submentido à lei de desigualdade-contradição-subordinação que [...] caracteriza o complexo das formações ideológicas”.
Orlandi (2009, p. 43) explicita que as formações discursivas podem ser vistas como regionalizações do interdiscurso, e, por sua vez, é ele, o interdiscurso, aquilo que disponibiliza os dizeres, determinando, pelo já-dito, aquilo que constitui uma formação discursiva em relação à outra. Diante disso, os sentidos não são predeterminados por propriedades da língua, ao contrário, dependem das relações constituídas nas/pelas formações discursivas. Além disso, reitera o que foi colocado anteriormente, ao dizer que “é preciso não pensar as formações discursivas como blocos homogêneos funcionando automaticamente. Elas são constituídas pela contradição, são heterogêneas nelas mesmas e suas fronteiras são fluidas, configurando-se e reconfigurando-se continuamente” (Ibid., p. 44).
Assim se trabalha com discurso – efeito de sentido entre os locutores –, e o discurso depende da ordem material da língua e da história para efetivar-se.  A história existe como constitutiva do sujeito e do sentido, não sendo apenas fato exterior, como aspecto de complementaridade. Orlandi (2009) pensa a história também na sua relação com o interdiscurso, compreendendo-o como historicidade, como o que determina aquilo que, da situação, das condições de produção, é relevante para a própria discursividade. Segundo a autora, inscreve-se essa exterioridade no interior da textualidade.
Afirma Orlandi (2009, p. 33) que, “ao se pensar a relação da historicidade (do discurso) e da história (como se dá no mundo)”, considera-se o interdiscurso como o lugar onde isso se especifica. Já Pêcheux (2007 [1983]), ao abordar as condições por ele entendidas como mecanismos e processos, entre outros, nas quais um acontecimento histórico - um elemento histórico descontínuo e exterior - é suscetível de vir a se inscrever na continuidade interna, no espaço potencial de coerência próprio a uma


[5] Grifos do autor.