Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

torna-se tão relevante nesta disciplina de interpretação. Apreende-se, por todas as considerações anteriormente colocadas, que:
 
 [...] a história não deverá mais valer pelo acúmulo de informações que consegue reunir ao longo do tempo, mas pelo efeito de sentido que os acontecimentos revelados produzem num determinado espaço sócio-cultural e numa determinada época (PETRI, 2006, p. 4).
 
Diante disso, que a história existe como constitutiva do sujeito e do sentido, não se aceita defini-la apenas como fato exterior, como aspecto de complementaridade. Já quanto à memória, salientamos que esta:
 
[...] desenvolve-se em um espaço próprio, que se construiu por relações entre seres que se significam e significam as relações que sustentam a própria existência deste espaço como espaço vivido/dividido com seus gestos de significação (ORLANDI, 2004b, p. 26).
 
Assim, no embate entre história e memória e, principalmente, no que colocamos anteriormente, de acordo com as concepções pechetianas, quanto à fragilidade dos processos de constituição – ou não – dessa memória, percebemos o quanto isso diz à questão da imigração em que estamos pensando: a memória é um espaço contraditório, múltiplo, fragmentado, elíptico. No recorte que trazemos, referente a situações que envolvem história e memória do sujeito imigrante italiano da/na Quarta Colônia[6], enquanto há uma história oficial que circula, que não se rende aos eventos de uma história social, há uma outra memória, também  social, que tampouco se rende, se entrega, quiçá resiste ao que (não) contam os livros; e há outra, ainda, que se apaga, aos poucos. Parafraseando e metaforizando o que coloca Petri (2010, p. 68), “há necessidade de apagar o diabo, o mal, a dificuldade, em prol do estabelecimento de uma história que inclui o menino deus, o bem, a facilidade”. Em nosso caso, talvez não nos refiramos a uma história/memória em que circulem imagens ligadas a deus ou ao diabo, mas a questões simbólicas passíveis de litígio, circunscritas àquilo que pode e àquilo que não pode se manifestar, se dizer, quando há o poder do Estado que se alterna entre autoritário e democrático, o que proíbe e o que aceita, aquele que tolera ou que valoriza. São espaços e tempos em que as questões se dizem referentes “ao funcionamento da história e da memória, a presença e o funcionamento de cada uma: a primeira [...]


[6] A “Quarta Colônia de Imigração Italiana” a que nos referimos situa-se no Estado do Rio Grande do Sul, região central, e assim é denominada por ter sido o quarto – também foi último - dos núcleos de imigração italiana no estado. Abrange o território compreendido hoje pelos municípios de Faxinal do Soturno, São João do Polêsine, Dona Francisca, Nova Palma, Ivorá, Silveira Martins (considerado o berço desta colônia), entre outros.