Revista Rua


O que quer, o que pode um discurso? O que quer, o que pode esta foto?
What a discourse want, what it can do? What this photography want, what it can do?

Viviane Teresinha Biacchi Brust e Verli Petri

vinculada ao que é oficial [...]; já a segunda, funciona no dizer que produz sentidos [...] (PETRI, 2010, p. 72). Ao retomar Davallon (2007, p. 26), para quem “a história resiste ao tempo; o que não pode a memória”, Petri (op. cit.) observa, porém, que ambas podem funcionar coladas uma à outra. É esse o espaço de tensão – distensão e retensão – que se estabelecem, observáveis nos movimentos de construção, desconstrução e reconstrução de monumentos a partir de fotografias, onde percebemos, da história, apagamentos e retomadas; da memória, fragmentações, lacunas, elipses, saturações.
 
2. O que podem diferentes materialidades?
 
Pêcheux (2008 [1983], p. 51) traz, para seu discurso, palavras de Milner[7] (1982, p. 336), as quais dão conta de que “nenhuma língua pode ser pensada completamente, se aí não se integra a possibilidade de sua poesia”, para relacioná-las a reflexões que faz acerca da “relação entre os universos logicamente estabilizados e o das formulações irremediavelmente equívocas, investigando as relações do descritível e do interpretável ao mesmo tempo em que percorre as formas de se fazer ciência (...)”[8]. Diante disso, o autor explicita certas “exigências” relacionadas à maneira de trabalhar da Análise de Discurso, alicerçada nos gestos de “ler, descrever, interpretar”. No entanto, para nós, o sentido dessas afirmações se completam quando Orlandi afirma que “parafrasearia esta afirmação dizendo que a língua não pode ser pensada sem a possibilidade de outras formas materiais significantes” (2012, p. 58). Reconhecendo a abertura do simbólico, a autora chama-nos à atenção que a língua, sujeita a falhas, pode ser pensada em relação a essas diferentes materialidades significantes, que também são/estão sujeitas à falha. Diante disso, trazemos à baila Courtine (1999, p. 15-16), porque ele entende que “mesmo que se coloque aqui em jogo a materialidade não-linguística de um documento fotográfico, é na ordem do discurso[9] que ele se é produzido” – É dessa matéria que se constitui o nosso objeto analítico, ele é da ordem do discurso, ele é uma fotografia. E é a partir dela que se desencadeiam outros discursos, em outras e diferentes materialidades discursivas. Se isso, portanto, se dá na ordem do discurso, sabemos que dizem - ou até silenciam – alguma, pouca, muita ou outra coisa, coisas ao contrário, e, principalmente,


[7] Quando o autor faz referência à obra de Roman Jakobson, em seu artigo “A Roman Jakobson ou Le Bonheur par La Symétrie”.
[8]  Cf. ORLANDI, 1990, in: Nota ao leitor, na obra “O discurso: estrutura ou acontecimento”, 5 ed. Campinas, SP: Pontes, 2008 [1983],  p. 8.
[9] Grifo nosso.