Revista Rua


Textualidade infográfica eletrônica: efeitos de velocidade para a leitura
Electronic textuality infograph: velocity effects for the reading

Silvia Regina Nunes

Algumas considerações
Diferentes modos de formulação têm produzido diferentes práticas de leitura, no ciberespaço. Defendo em minha tese que há ummovimento de esquematização que sustenta as práticas de leitura na contemporaneidade. Compreendo que o movimento de esquematizaçãoé estruturante do discurso infográfico, sendo produzido a partir da imbricação simultânea de a) formulações verbais, b) tabelas e gráficos estatísticos, setas, pontilhados e c) ordenação numérica e alfabética, que produzem, simultaneamente, efeitos de relevância, de síntese e deordenação para os temas que são abordados, especialmente no campo do jornalismo.
No caso da análise do infográfico em tela, há a produção de efeitos de síntese (simplificação, especificação), pelo funcionamento da reiteração. Tal efeito é produzido pelo modo como a reiteração entre a formulação verbal-verbal e verbal-visual é construída, sendo que o funcionamento visa produzir uma administração e estabilização de sentidos. E é o procedimento reiterativo que garante o efeito de síntese verbal e/ou visual.
No funcionamento do infográfico, como já apontado, a repetição sustenta um efeito sequencial produzido pelo gesto de clicar no link-seta e sustenta também o processo que descreve o modo como o sujeito se vicia no crack, ou seja, se ancora na circularidade dos eventos que produz a visualização da ação da droga no organismo, conforme se segue:
 
O ciclo de eventos simplifica a questão da droga apresentando o processo como se fosse linear, isto é, uma relação direta (de causa e consequência) em que para cada ação haveria uma reação (sem possibilidade de quebra dessa cadeia) até chegar ao final trágico que seria a morte.
Além de administrar a produção de sentidos pela reiteração, a relação clique-link ainda administra o trajeto da leitura no infográfico, uma vez que não é possível retornar à primeira “cena” sem avançar até o final da sequência narrativa. Nessas condições, o gesto de clicar fica condicionado à prévia programação de um funcionamento sequencial. Não é um funcionamento que possibilite ao leitor clicar aleatoriamente em links, mas somente na sequência de links pré-formulada.
Compreendendo amplamente o funcionamento da injunção clique-link no infográfico eletrônico, observo que esta injunção é produzida na e pela relação do sujeito com a máquina, nas condições da vida digital (NEGROPONTE, 2006), pois em outras condições de produção, por exemplo, como na dos primórdios da imprensa, com a prensa móvel de Gutemberg, ou nas da datilografia com suas técnicas de destreza no movimento manual, esta injunção clique-link não se produziria. Desta forma, a relação clique-link compõe o processo de produção da leitura eletrônica, com a participação de sujeitos determinados pelas condições de funcionamento do ciberespaço.