Revista Rua


Textualidade infográfica eletrônica: efeitos de velocidade para a leitura
Electronic textuality infograph: velocity effects for the reading

Silvia Regina Nunes

Na teorização do pré-construído, partindo das questões desenvolvidas por Henry (1992), Pêcheux assevera que:
 
(...) remete simultaneamente “àquilo que todo mundo sabe”, isto é, aos conteúdos de pensamento “do sujeito universal” suporte da identificação e àquilo que todo mundo, em uma “situação” dada, pode ser e entender, sob a forma das evidências do “contexto situacional”. (1997, p. 171)
 
Além disso, o autor considera o efeito de pré-construído como a modalidade discursiva da discrepância pela qual o indivíduo é interpelado em sujeito ao mesmo tempo em que é “sempre-já-sujeito”[3]. Tal discrepância indica a existência de uma estranheza-familiar entre um fora situado antes, em outro lugar, independentemente, e o sujeito identificável, responsável por seus atos. Esta discrepância, que funciona por contradição, poderia ser identificada, por exemplo, em brincadeiras, anedotas, chistes, etc. que seriam, de fato, regidos pela contradição inerente a esta discrepância.  
O pré-construído teria como característica principal, portanto, a separação entre o pensamento e o objeto do pensamento, com a pré-existência deste último, uma vez que o real existe independente do pensamento. O pré-construído é apresentado como o “sempre-já-aí” da interpelação ideológica que imporia a realidade e seu sentido sob a forma de universalidade (mundo das coisas) (idem, p.102; p.154). O funcionamento do pré-construído na relação com a estereotipia põe em cena um processo de cumplicidade e identificação, ou seja, a possibilidade de se pensar do lugar do outro garantindo a eficácia do sujeito universal.
Pensado discursivamente, então, o estereótipo funcionaria como uma “representação” do imaginário social, sendo que a representação, para a AD, não se constitui numa relação direta entre palavras e coisas, linguagem e mundo, e, justamente por isso, sempre falamos que a representação é imaginária. (D’OLIVO, 2010).
Uma vez que há reiteração entre a formulação verbal e a visual, o que é pré-afirmado numa formulação adquire seu estatuto de “verdade imediata” por conta de seu funcionamento, ou seja, a encenação das consequências da dependência química funciona como uma pré-afirmação ancorada no efeito de universalidade do sentido - aquilo que todo mundo sabe, isto é, que o consumo de drogas traz diversas consequências negativas para a saúde. A reiteração de uma formulação pela outra cristaliza o efeito de verdade deste pré-afirmado. Assim, a formulação visual da ação da droga, do beco e do próprio ato de acender o cachimbo de crack produz o efeito de verdade pelo modo como a simulação visual funciona como comprovação do que foi afirmado anteriormente.


[3] É Pêcheux quem coloca a ênfase.