Revista Rua


A deriva de sentidos de "Terra da luz" no pós-governo mudancista: Uma análise do vídeo Ceará, terra da luz
The drifting of meanings of "Terra da Luz" in the post-changing government: an analysis of the video Ceará, Terra da Luz

Aline Maria Freitas Bussons

Este é um discurso turístico específico, contextualizado, porém vale a pena asseverar que este discurso é determinado pela nova ordem mundial de globalização, a qual promove uma desterritorialização política e cultural em que “o turismo implica não apenas a prática de viagens propriamente dita, mas todo o complexo que está por trás da comercialização do tempo livre” (Muniz, 2004, p.34). O turismo no Ceará, constituído nesta formação ideológica, é atravessado por um discurso que impõe uma imagem positiva do estado, silenciando diversos outros imaginários de Ceará (a fome, a miséria e o atraso relacionados ao rural) e apresentando, especialmente, uma infraestrutura urbana que, além de conforto (compras, transporte, hospedagem, alimentação) viabiliza o contato com “peculiaridades” do litoral cearense. No vídeo Ceará, terra da luz, a cidade de Fortaleza e seus hotéis luxuosos à beira mar versus a jangada, cortando a “cidade” em primeiro plano, ilustra bem o discurso turístico dos governos das mudanças, notadamente, nas relações entre conforto do espaço urbano (hotéis na orla) e o contato com uma cultura outra, em seus traços regionais (jangada):
 

Figura 2: Imagem capturada do site Youtube.
 
Ademais, o Discurso Turístico é um discurso autoritário.  Conforme a tipologia discursiva proposta por Orlandi (2009, p.15-16), “no discurso autoritário, o referente está ‘ausente’, oculto pelo dizer; não há realmente interlocutores, mas um agente exclusivo, o que resulta em uma polissemia contida.” Em primeiro lugar, no DT, a polissemia é contida, pois parte de uma verdade inquestionável: “é preciso viajar”. As razões são variadas – paisagens, compras, negócios, espiritualidade –, porém é preciso ir e vir, deslocar-se no espaço para ver/ter/sentir além. Partindo dos desígnios de “viajar”, o discurso turístico, como tal, autoritário e, portanto, homogeneizador, constrói imagens idealizadas de cidades, regiões, países. Vejamos a letra da canção de Ítalo & Renno: