Revista Rua


"Pra tá aqui tem que montar, desmontar e carregar". Mobilidade, território e cotidiano do trabalho na feira de artesanato da Avenida Beira-mar, Fortaleza (CE)
"To be here one has to assemble, to disassemble and to carry": Mobility, territory and labor quotidian in the craft fair, on Beira-mar Avenue, Fortaleza (CE)

Luiz Antonio Araújo Gonçalves

1. Introdução
Os espaços públicos das grandes cidades nordestinas, mais especificamente as que se encontram nas faixas litorâneas, têm atraído grande número de trabalhadores que buscam oportunidades de trabalho e renda em atividades tradicionais, como o artesanato. Nas duas últimas décadas, o desenvolvimento do turismo contribuiu, sem dúvida, para a expansão das vendas de produtos artesanais.
Este artigo trata do cotidiano do trabalho na feira de artesanato, denominada “feirinha da Beira-Mar”, situada na orla marítima/turística da cidade de Fortaleza (CE). Buscou-se, assim, dar conta de tal proposição a partir da dimensão do território e da mobilidade dos trabalhadores e trabalhadoras na constituição da feira que é montada e desmontada, todos os dias, no calçadão da orla.
A relação estabelecida entre os feirantes, também chamados permissionários, foi um aspecto relevante, pois revelou a organização do trabalho no interior da feira e a formação de subcircuitos do trabalho, a exemplo do serviço de montagem e desmontagem das barracas. Esse trabalho diário é realizado por pessoas contratadas, que fazem, igualmente, a instalação de baterias, utilizadas na iluminação das barracas, além do transporte das mercadorias do depósito, situado nas proximidades da avenida Beira-Mar, até o calçadão, local de instalação das barracas.
Antes, porém, é interessante situar o leitor no contexto do trabalho informal na orla marítima de Fortaleza. Nas últimas décadas, a avenida Beira-Mar tornou-se um espaço marcado pela valorização da paisagem litorânea e pelo acirramento da busca por um lugar com vista para o mar. A proximidade do principal corredor da hotelaria do estado do Ceará revelou-se um fator determinante na fixação da feira, atraindo, inclusive, comerciantes de outras centrais artesanais, como o Mercado Central e o Centro de Turismo, ambos localizados no centro antigo da cidade. A localização estratégica da feira influenciou, também, a concentração de vendedores ambulantes no calçadão da Beira-Mar.
É no calçadão, entretanto, onde se estabelecem novas apropriações e se misturam diferentes grupos sociais, compreendendo: turistas, residentes da área, moradores de bairros próximos e distantes, situados na periferia da cidade. Enquanto muitos vão ao calçadão para fazer exercícios, passeios, caminhadas, outros vão a trabalho, ou seja, em busca de renda que lhes permita o sustento. Esses grupos sociais, que sobrevivem do trabalho desenvolvido no calçadão, constroem diferentes territorialidades em meio a essa diversidade de apropriações e usos.