1. Introdução
Os espaços públicos das grandes cidades nordestinas, mais especificamente as que se encontram nas faixas litorâneas, têm atraído grande número de trabalhadores que buscam oportunidades de trabalho e renda em atividades tradicionais, como o artesanato. Nas duas últimas décadas, o desenvolvimento do turismo contribuiu, sem dúvida, para a expansão das vendas de produtos artesanais.
Este artigo trata do cotidiano do trabalho na feira de artesanato, denominada “feirinha da Beira-Mar”, situada na orla marítima/turística da cidade de Fortaleza (CE). Buscou-se, assim, dar conta de tal proposição a partir da dimensão do território e da mobilidade dos trabalhadores e trabalhadoras na constituição da feira que é montada e desmontada, todos os dias, no calçadão da orla.
A relação estabelecida entre os feirantes, também chamados permissionários, foi um aspecto relevante, pois revelou a organização do trabalho no interior da feira e a formação de subcircuitos do trabalho, a exemplo do serviço de montagem e desmontagem das barracas. Esse trabalho diário é realizado por pessoas contratadas, que fazem, igualmente, a instalação de baterias, utilizadas na iluminação das barracas, além do transporte das mercadorias do depósito, situado nas proximidades da avenida Beira-Mar, até o calçadão, local de instalação das barracas.
Antes, porém, é interessante situar o leitor no contexto do trabalho informal na orla marítima de Fortaleza. Nas últimas décadas, a avenida Beira-Mar tornou-se um espaço marcado pela valorização da paisagem litorânea e pelo acirramento da busca por um lugar com vista para o mar. A proximidade do principal corredor da hotelaria do estado do Ceará revelou-se um fator determinante na fixação da feira, atraindo, inclusive, comerciantes de outras centrais artesanais, como o Mercado Central e o Centro de Turismo, ambos localizados no centro antigo da cidade. A localização estratégica da feira influenciou, também, a concentração de vendedores ambulantes no calçadão da Beira-Mar.
É no calçadão, entretanto, onde se estabelecem novas apropriações e se misturam diferentes grupos sociais, compreendendo: turistas, residentes da área, moradores de bairros próximos e distantes, situados na periferia da cidade. Enquanto muitos vão ao calçadão para fazer exercícios, passeios, caminhadas, outros vão a trabalho, ou seja, em busca de renda que lhes permita o sustento. Esses grupos sociais, que sobrevivem do trabalho desenvolvido no calçadão, constroem diferentes territorialidades em meio a essa diversidade de apropriações e usos.