Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

Introdução
No início de 2012, o bairro Pinheirinho localizado em São José dos Campos, interior de São Paulo, foi noticiado como palco de violenta ação policial que à primeira vista parece pura decorrência do cumprimento de mais um mandato judicial, mas que expõe um sintoma social que retorna no país e faz voltar à tona o debate sobre “habitação urbana”.
Uma dessas notícias chama a atenção por conta do arranjo narrativo e pela formulação parafrástica. Leiamos:
 
“Título - Pinheirinho: uma Canudos em São José dos Campos. Por Clovis Oliveira (09/02/2012). Um bairro de trabalhadores e gente pobre. Os terrenos são relativamente grandes. As ruas são largas. Existem serviços públicos e igrejas (A Canudos do final do Século XIX também tinha duas delas). Na verdade, Pinheirinho faz parte de São José dos Campos, perfeitamente integrado com os bairros vizinhos. Por que não reconhecer a comunidade de Pinheirinho e garantir uma melhor infraestrutura para aquele povo? Por que não redistribuir só um pouco da riqueza de São José dos Campos, uma das mais ricas cidades do Brasil?”[1] (negritos no original; grifos nossos)
 
Além de diversos textos em blogs, jornais impressos, vários vídeos põem em cena um campo vasto de significações. Trata-se de um acontecimento cuja dispersão de sentidos em torno conclama um debate sobre a luta pela terra no Brasil, de caráter mais amplo, e concomitantemente a fluidez e as políticas de assepsia do espaço urbano.
Defendemos que uma das formas possíveis de apontar para algumas arbitrariedades envolvendo práticas sociais naturalizadas em nosso país, principalmente ligadas aos mandos e desmandos do avanço de interesses privativos nos espaços públicos em razão de uma avassaladora política do Capital neoliberal, é pela análise de sentidos envolvidos à ação policial, como no caso aqui analisado.
É por este caminho discursivo que apresentaremos alguns gestos interpretativos em torno desta questão que consolidam e engendram na opacidade da trama de sentidos uma tentativa de calar os conflitos, as contradições e contornar as problemáticas sociais em sua dimensão político-histórica por meio da política do contorno a essas contradições de que resultam os “consensos” que escondem desnivelamentos, mas que deixam escapar “um sujeito ardente” (PÊCHEUX, 1993, p.30).


[1] Retirado de http://cspconlutas.org.br/2012/02/pinheirinho-uma-canudos-em-sao-jose-doscampos-por-clovis-oliveira/ acesso em: 3/5/2013;