Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

realmente algo, sem representar algo real” (p.26). É neste conflito entre individual e coletivo que aparece o Estado como entidade para atender interesses coletivos, separado, como se fosse uma “comunidade ilusória” (p.29) negando que a “universalidade é uma forma ilusória da coletividade” (p.30).
Neste caso, chama a atenção a propósito da questão tratada no parágrafo anterior, zonas de sentido em que a naturalização do sentido sobre resolução de contradições sociais é sustentada pela repressão da violenta força coercitiva.
Como vemos no jogo de sentidos sobre as ações policiais no “Pinheirinho”, temos na representação dos Aparelhos Repressivos do Estado (cf. ALTHUSSER, 1980), a posição discursiva que naturaliza o gerenciamento prático de interesses (ilusoriamente “coletivo”). De modo que essa posição discursiva alimenta este refreamento ilusório por parte do Estado já presente nas colocações de Marx e Engels (1998/1845-46) quando tratam da mobilização da força produtiva coletiva condicionada pelas formas de lidar com a divisão do trabalho; essas forças são reprimidas porque não se manifestam como articulação individual, mas por força coletiva estranha aos próprios agentes (MARX; ENGELS, 1998[1846/46]. Em suma, há uma força anônima, mas cujo efeito ideológico de evidência deve ser claro do ponto de vista da “ação policial”.
Ocorre que nesta força coletiva estranha há um jogo de alienação pautado naquilo que é próprio de como os efeitos de sentido interpelam os indivíduos em sujeito conforme Pêcheux (1993): pelo desconhecimento da causa daquilo que falha na mobilização e na mobilidade das práticas sociais e dos sentidos nela mobilizados.
Isto também tem fundamento no modo como essas forças se articulam no plano da infra-estrutura dos Aparelhos Ideológicos e Repressivos (cf. ALTHUSSER, 1980) em que as representações das representações (ilusórias) da força produtiva (acerca de quem reprime quem) regem formas quase infinitas de espelhamento imaginário entre os sujeitos interpelados pela ideologia; quase, e não totalmente infinitas, por conta do fato de que os determinantes do sujeito - História, inconsciente e língua - estão atravessados pelo político e pela equivocidade de um simbólico fragmentado e disperso, a se reformular (cf. PÊCHEUX, 1993, 1997).
Esta força estranha aos próprios agentes aparece como legado do materialismo histórico-dialético em Pêcheux (1999) quando aponta a relação entre o invisível e o nomeado por meio da interpretação de um acontecimento discursivo, em que numa série discursiva (paráfrase) irrompem marcas significantes, e também, portanto, de dispersão do sujeito a clamar por sentido.