Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

É na esteira também de contradições quase paradoxais que Zoppi-Fontana (2011) aponta furos em slogans acerca do espaço urbano como “bike para todos” em que há o disfarce da invisibilidade dos trabalhadores numa mitificação empírica de união, em que a cidade aparente ser a “mesma” para “todos”.
Estas ilusões de homogeneidade e autorreferencialidade, a partir de que se pretende “extirpar” a qualquer custo a diferença radical no/do Outro, remetem ao que Bauman (2003, p. 109) discute acerca da “guetificação”, entendida como “paralela e complementar à criminalização da pobreza”.
A partir do momento em que o Estado se afasta da regulação das relações de trabalho e o desemprego aumenta em parte por conta das incertezas dos mercados desregulados temos um distanciamento das elites, o que passa pelo esvaziamento dos lugares públicos e coletivos, que, anódinos, garantem vigilância para interesses cada vez mais específicos. Temos assim na guetificação um recurso para conter pobres que não servem nem mesmo para exército de reserva e, menos ainda, para consumidores, tornando-se potencialmente descartáveis uma vez que inúteis.
Temos deste modo o fortalecimento do estigma territorial. Lamentável barbárie traduzida nas seguintes palavras: “a vida no gueto não sedimenta a comunidade. Compartilhar o estigma e a humilhação não faz irmãos os sofredores; antes, alimenta o escárnio, o desprezo e o ódio” (BAUMAN, 2003, p. 109).
 
Considerações finais
Desta discussão restam marcas provisórias que desejamos não sejam conclusivas; antes, que insistam na dinâmica de práticas sociais voltadas às ações, considerando-se como ações, os debates sobre as questões aqui tratadas.
Indicamos ainda a necessidade de que o reconhecimento social da alteridade no espaço urbano não seja a hipertrofia da Personalidade democrática e seu disfarce autoritário, mas uma questão, tal como a apresentada no início deste artigo em um dos recortes: “por que não reconhecera comunidade de Pinheirinho e garantir uma melhor infraestrutura para aquele povo (idem, ibidem)?