Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

Partimos da retomada desta lacuna da memória discursiva que alinha e lineariza um lugar do imaginário no primeiro relato aqui destacado sobre o acontecimento marcado pela ação policial ocorrido no bairro “Pinheirinho” em São José dos Campos. É esta lacuna que nos orienta nesta perspectiva discursiva da escrita sobre o jogo de sentidos envolvidos aos relatos sobre o acontecimento.
Notamos que esta tentativa de homogeneização presente nos discursos fundadores (ORLANDI, 2001) sobre a favela e a habitação urbana popular em geral contrariam a pluralidade das populações ligadas a este modelo de habitação, o que é mostrado por Tatagiba et all (2012) ao analisarem o “movimento de moradia” do período recente da cidade de São Paulo-SP.
Ao empregarmos uma leitura rápida e dispersa sobre o corpus de que trata este artigo, percebemos a predominância de marcas verbais como: desocupar, ocupar, invadir, reivindicar, despejar, guerrear, reintegrar. Numa análise prévia e inicial, chama a atenção o referencial semântico ligado a conflito em todos esses usos verbais.
Alguns desses verbos (“ocupar, reivindicar e participar”) é ponto de partida para o artigo desses pesquisadores, que demonstram o modo articulado pelo qual os movimentos populares por moradia na capital paulista (idem), na linha da denúncia de que como aponta Valladares (2000) ainda permanecem atualmente ações governamentais higienistas que somente agravam segmentações discriminatórias no espaço urbano, uma vez que essas ações violentas não se separam da crença na necessidade de limpeza moral.
Tatagiba et all (2012) abordam que tem se acentuado na capital paulista problemas ligados à moradia por conta da intensificação da especulação imobiliária do grande Capital, abusos de intermediários, despejos sem aviso prévio. Disso decorre um “repertório de ações coletivas” usado para assegurar o direito à moradia digna em movimentos populares, cujas origens múltiplas aparecem principalmente no contexto de redemocratização do país com alcance internacional e apoio de setores de engajamento social da igreja católica, bem como atravessado por grupos que também militam em favor de temas transversais reconhecidos oficialmente pelos órgãos oficiais da administração pública.